Parabéns, senhores holandeses. Felicito-vos por terem feito a escolha acertada, de acordo com o que dizem os jornais portugueses, essa espécie de ProTeste da política europeia. Para os jornalistas portugueses, a política não é uma questão de opção entre projectos filosóficos de sociedade ou de escolha entre políticas de diversa natureza. No espaço público luso, as eleições são uma feroz selecção entre o certo e o errado. Há políticos obviamente bonzinhos, aqueles que só os imbecis ou interesseiros é que não querem a governar, e os manifestamente horríveis, ao serviço de causas demasiado obscuras ou ideais demasiado transparentes.
Por cá, fomos sendo informados ao longo de vários dias que vocês, senhores holandeses, estavam prestes a eleger um tipo que, apesar de (ou por causa de) defender intransigentemente o direito à liberdade de expressão, é claramente um filho de Mefistófeles com Agripina, a Jovem. Felizmente para a Humanidade, os holandeses são um povo mais inteligente do que o americano (que, como todos sabemos na Europa, é uma cambada de estúpidos com colesterol elevado) e escolheram para governar um político, esse sim, sensato, conciliador, imbuído de espírito social e europeu. Curiosamente, se o incumbente primeiro-ministro holandês se apresentasse em Portugal com o mesmo programa político com que concorreu nos Países Baixos (mais liberal que o do PSD) seria etiquetado como um fascista neoliberal ao serviço da ganância do capitalismo financeiro.
Em Teoria Política isto é conhecido por Efeito Passos Coelho. Enquanto Passos era adversário de Manuela Ferreira Leite dentro do PSD, ele era um político exemplar e ela uma bruxa velha, quando Passos assumiu o Governo passou a ser execrável e Ferreira Leite, uma senhora muito respeitável. Também Mark Rutte, que já fora um líder conservador de direita, duas categorias de fazer corar o mais desavergonhado, se tornou, graças a Wilders, num simpático primeiro-ministro liberal, nem sequer neo.
Por: Nuno Amaral Jerónimo