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Alice no país dos trouxas

Os planos são bons, a fotografia cuidada, a luz é suave e a música inspiradora. Não será um sucesso tão grande quanto os alegados plágios de Tony Carreira, mas o trabalho profissional faz os diretos de facebook dos adversários parecer a fisga de David tentando atingir Golias, o gigante, temido não por ser o mais sensato ou o mais sábio, mas porque a sua força significava tem poder. Mudam os gigantes, mantém-se a obediência.

O melodrama do passado é agora um conto erótico escaldante que apimenta e faz transpirar a legião de fãs entretanto convertida. Os tons dessa mudança são laranja, violeta, amarelo, azul, vermelho… encontrados em rotundas, ruas e festas. Um degradê de tons capaz de anestesiar até os mais relutantes, um filme de final épico e feliz… Até que as pipocas se acabem, porque a Standard & Poor´s retirou-nos do lixo, mas, alegadamente, segundo o que classificam alguns, estamos agora no rating de trouxas por acreditar em economia alternativa.

Mas afinal o que é um trouxa? Se trouxa é alguém que é facilmente enganado resta saber quem engana quem. Mas qual será a entidade acreditada para avaliar o grau de trouxismo municipal? Para auscultar a autoestima e orgulho municipal já temos o barómetro municipal da alegria, definido e classificado por critérios menos transparentes que a água do Noéme em dia de descargas.

Será afinal mais trouxa quem acredita em “Sanchos”, quem acha que mudar é preciso, quem quer colocar a cidade em Primeiro, ou quem confia em tudo o que nos dizem os cartazes que o Tribunal Constitucional e a Comissão Nacional de Eleições consideram propaganda eleitoral?

Serão mais trouxas os que acreditam que 100 mil euros numa mão de bronze e mármore é desproporcional ou quem defende que 845 mil euros em FIT é ótimo para a hotelaria municipal (danos no PURDiz excluídos)?

São motivo de chacota os que defendem que o IMI devia ser mais baixo, ou os que defendem que vale a pena gastar quase um milhão de euros em flores, canteiros, sistemas de rega e outros elementos de jardinagem?

E que dizer dos prestadores de serviços do Natal, Feira Farta e passagem de ano? Considerarão que somos trouxas por aplicar mais de um milhão de euros em tendas, concertos e pistas de gelo enquanto não pagamos a dívida de 25 milhões de euros de água, ou para eles o cliente tem sempre razão?

Gostem ou não gostem, uma corrida sem rasteiras que não foi XL, além de mais alta, foi tão cara como 3 etapas da Volta a Portugal em bicicleta, 100 mil euros. É notável, até mesmo sublime tal feito, mas se é para impressionar não se fiquem por uma festa branca de mais de 100 mil euros, arranquem a Madonna de Alfama e coloquem-na numa tasca de S. Vicente a beber shot’s de “Ar da Guarda”.

Em duelo de trouxas, será mais ridículo quem acredita que há um saldo positivo de 500 postos de trabalho, que por cada giesta cortada na PLIE surgiram duas novas empresas no concelho e na redução de 45 milhões de euros de dívida ou quem grita que o concelho perdeu duas mil, pessoas, perderá 900 alunos em quatro anos, no fecho do Colégio do Mondego e na fada dos dentes?

Sem qualquer dúvida, um gesto refletido é um edifício demolido no parque municipal em 2017 por um projeto de 2016, tendo sido reabilitado em 2015 por milhares de euros. É a isto que chamamos de planeamento de longo prazo não é?

Haverá quem defenda os quilómetros de tapete relvado, as marquises e cabos de aço no centro histórico, miolos bem escolhidos, os ciclos de entretenimento, as árvores no chão e as estruturas de propaganda no ar podendo afirmar isso mesmo nas urnas, não nas da Rua do Comércio, mas nas de voto, podendo ter igualmente a certeza de que quem não mudou a trouxa para cá, dificilmente mudará.

Por: Pedro Narciso

Comentários dos nossos leitores
Carla Xanamoreira45@gmai.com
Comentário:
Muito bom.
 

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