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Alice Munro, Prémio Nobel da Literatura 2013

Opinião – Ovo de Colombo

Considerada “mestre do conto contemporâneo”, a atribuição deste prémio à escritora canadiana vem prestigiar um género literário nem sempre reconhecido. Aclamada como a “Tchekhov dos nossos dias”, as suas histórias distinguem-se pela subtileza narrativa com que nos apresenta pequenos fragmentos da vida de personagens, sobretudo mulheres, que fogem a qualquer estereótipo de beleza ou comportamento, revelando-nos a fragilidade da condição humana ligada ao amor, à morte, ao sucesso e ao fracasso, através de uma prosa despretensiosa e transparente de realismo psicológico.

O efeito catártico ou processo de identificação com estas personagens e respectivos dilemas, atitudes e resposta a conflitos por vezes incomoda, ao fazer-nos confrontar com lugares recônditos da nossa mente que preferíamos ignorar. E é o reconhecimento das imperfeições como intrínsecas ao ser humano, que luta e por vezes alcança mas a maior parte das vezes falha, que  podemos absorver de uma leitura profunda das histórias de Munro.

Nascida a 10 de Julho de 1931, em Wingham, Ontário, cedo decidiu que queria ser escritora. Com 19 anos publicou o seu primeiro conto “The Dimensions of a Shadow” e, em 1968, a sua primeira colectânea de histórias “Dance of The Happy Shades” atingiu sucesso imediato, tendo ganho o mais importante prémio literário no Canadá, o Governor General’s Literary Award, feito que repetiu por mais duas vezes. Teve textos publicados na New Yorker, na Atlantic Monthly e na Paris Review. Recebeu ainda prémios como o United States National Book Critics Award e o England’s W. H. Smith Book Award, além do prestigiado Man Booker International Prize pelo conjunto da sua obra, em 2009, porque «embora essencialmente conhecida como contista, a autora mostra a profundidade, sabedoria e precisão que a maior parte dos ficcionistas só alcança numa vida inteira a escrever romances». Da sua vasta obra fazem parte dez colectâneas de contos e um romance e os seus livros estão traduzidos em treze línguas.

“Amada Vida”, (“Dear Life”, 2012) é a sua mais recente obra recheada de pequenas histórias, com personagens e assuntos triviais, condensando muitas delas uma vida inteira através de memórias e saltos no tempo que nos oferecem, em poucas páginas, décadas da existência destas personagens. Cada história centra-se num determinado momento ou evento na vida de alguém, que de alguma forma vê o seu futuro e destino alterados, deixando no ar a interrogação do que eventualmente poderia ter sido. Normalmente são acompanhadas de sentimentos de melancolia e tristeza, mas também de algum humor, tendo as últimas assumido parcial cariz autobiográfico.

É uma obra que vale a pena ler e conhecer pela acutilante narração de pequenos grandes dramas humanos que concentram em si uma intensidade psicológica que comove e prende o leitor, mas também desconcerta pelos finais abruptamente imprevisíveis.

Cristina Caramujo*

*Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra

**A autora optou por escrever de acordo com a antiga ortografia

Próxima semana: Fernanda Fernandes

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