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Alheamento das autoridades preocupa trabalhadores da Delphi

Principal sindicato em actividade na fábrica de cablagens da Guarda admite a greve como último recurso

Cerca de duas dezenas de trabalhadores da Delphi da Guarda pediram, no 1º de Maio, o apoio da cidade e da autarquia contra o despedimento anunciado de cerca de 540 funcionários da fábrica de cablagens da multinacional norte-americana.

“Onde estão as entidades da Guarda”, interrogava uma das bandeiras colocadas à entrada da empresa na concentração realizada na passada quinta-feira. Uma pergunta que repete Jorge Nunes, efectivo há uma dezena de anos, embora saiba a resposta: «Infelizmente, os trabalhadores estão sozinhos nesta luta, nem a autarquia nos apoia, pois dá os despedimentos como facto consumado», criticou. Na sua opinião, a cidade também está alheada da «catástrofe» que aí vem. «A Guarda ainda não tem a noção das implicações desta situação, que vai afectar toda a comunidade», avisou. Quem já faz contas à vida é Catarina Jarmelo, que trabalha na Delphi há nove anos. «Ninguém sabe o que lhe vai acontecer, mas eu penso que vou para a rua, é um sentimento que tenho», sublinhou, acrescentando que este ambiente de incerteza está a fazer «muito mal» aos trabalhadores.

O problema é que se o azar lhe bater à porta, Catarina Jarmelo não sabe o que vai fazer a seguir. «Aqui não temos muito para onde ir, emigrar pode ser uma solução, mas é uma opção muito complicada porque o meu filho está a concluir o 4º ano do ensino básico. Se pensar nisso, terei que o deixar por cá», adianta.

Foram este e «outros medos» que estiveram na origem da manifestação da semana passada, segundo José Ambrósio, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra (STIMMDAVGC). «Também quisemos dizer que estamos aqui para lutar pelos nossos postos de trabalho e que não queremos os despedimentos», referiu. O sindicalista espera ainda que a direcção da empresa da Guarda-Gare seja «a nossa porta-voz junto da administração da Delphi Portugal e dizer-lhes que vamos lutar até ao fim pelos nossos empregos».

Até porque, «quando foi necessário, os trabalhadores sempre cumpriram os objectivos da empresa. Foi graças a eles que a Delphi da Guarda foi considerada uma empresa de excelência», recordou José Ambrósio, que lamenta não haver ainda respostas da administração quanto aos despedimentos. «Hoje foi uma concentração pacífica, mas é lógico que se não obtivermos respostas positivas iremos para outros meios de luta e não excluímos a greve», garantiu. Entretanto, prossegue a contagem decrescente para o despedimento de 540 trabalhadores – metade dos 1.060 actualmente em funções – no segundo semestre deste ano. As primeiras dispensas estavam agendadas para este mês, mas foram adiadas, sem que tenham sido divulgadas a nova calendarização e os critérios a seguir.

Luis Martins

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