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Alguns querem a alternativa?

Crónica Política

A histeria coletiva que tomou conta da direita e da esmagadora dos comentadores do capital face a um presumível entendimento do PS com o PCP e o BE, com vista à formação de um governo com apoio maioritário no Parlamento, trouxe à superfície o anticomunismo mais primário que se possa imaginar e fez estalar – nalguns casos com grande surpresa de muitos – o verniz democrático com que um certo número de figuras públicas andou disfarçado desde sempre.

Fico perplexo com aquilo a que tenho assistido, mais ainda quando alguns se consideram donos da opinião pública por terem assento à mesa dos donos da opinião publicada. Estes estão não só à beira de um ataque de nervos, mas positivamente em pânico, felizmente, lendo o editorial de O INTERIOR não vislumbrei esse pânico, pelo contrário.

Será esperançoso a formação de um governo que não tenha como prioridade servir o capital, no entanto, também alerto os mais incautos que a euforia é inimiga da vontade de mudança. Saibamos construir pontes estratégicas para alcançar o caminho alternativo necessário e fundamental para quem trabalha por conta de outrem.

Os resultados eleitorais demonstraram bem a mentira que as eleições legislativas “eram para primeiro-ministro” e muitos parecem ter esquecido que de facto se elegeram 230 deputados à Assembleia da República, pelo que razão tem o PCP ao sublinhar repetidamente a utilidade de cada voto na CDU, pois com votos se elege deputados e com o número de deputados eleitos se determina a composição política do Parlamento. De tanto rotularem o PCP de “partido do protesto” sem vocação para o poder, parecem ter-se convencido que isso é uma verdade insofismável. De tanto decretarem que o “arco da governação” se esgota no trio PS/PSD/CDS parecem ter dado como certo que a “democracia” em que se aconchegam não pode jamais contemplar outras possibilidades.

Os cortes sucessivos na proteção e prestações sociais são também, entre outros, fatores de agravamento da pobreza em Portugal. Com efeito, caso não se verificassem as transferências sociais, cerca de 4,9 milhões de pessoas (metade da população) viveria abaixo do limiar de pobreza. O aprofundamento das desigualdades sociais é, pois, indissociável da política de direita que beneficia o grande patronato e as grandes empresas, garantindo-lhes as condições para acentuar a exploração e apropriar-se de uma parte cada vez maior da riqueza criada pelos trabalhadores.

É tempo de por termo ao governo PSD/CDS, à política de direita e ao empobrecimento e exclusão social que lhes estão diretamente associados. É hora de assumir uma política alternativa que promova um verdadeiro combate à pobreza, valorize o trabalho e os trabalhadores, garanta o emprego com direitos, aumente os salários e o salário mínimo nacional, as pensões e as prestações sociais e reforce as funções sociais do Estado.

A verdade, como dizia o meu camarada Jerónimo Sousa, é que os eleitos da CDU, haja o que houver, venha o que vier, vão contar sempre para a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país.

Por: Honorato Robalo

* Membro executivo da Direção da Organização Regional da Guarda (DORG) do PCP

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