«Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes». Esta frase da autoria de Isaac Newton marca bastante como é desenvolvida a ciência e tecnologia. O trabalho científico é construído quase sempre em cima de trabalho já previamente desenvolvido, seja ele ao nível da própria arquitetura do campo de investigação, seja ao nível da linguagem utilizada para transmitir essa nova contribuição. No dia a dia quando somos confrontados com notícias de matriz científica e tecnológica recorremos também a ombros para conseguir interpretar o que chega até nós. Mas será que esses ombros são sólidos? Será que sabemos em rigor a constituição desses ombros? Será que quando falamos na energia eólica, sabemos como se forma o vento? Será que quando falamos em energia das marés, sabemos o que é a maré?
Será que quando falamos nos perigos da elevada exposição ao Sol, sabemos como é a luz que provém do sol?
São estas questões que revestem o nosso dia a dia e sobre as quais deveremos ter um conhecimento científico suficiente que nos permita compreender os desafios da ciência e tecnologia nesses campos.
Analisemos o seguinte vento: Se o ar se desloca com a Terra no seu movimento de rotação por que é que existe o vento? O vento é, afinal, ar em movimento, e talvez este seja aparente e o ar se mantenha imóvel enquanto a Terra se desloca debaixo dele. Esta hipótese está errada!
A Terra roda de ocidente para oriente, e é por isso que todos os corpos no firmamento parecem deslocar-se de leste para ocidente, tal como o comboio ao nosso lado parece deslocar-se para trás quando o nosso comboio avança. A Terra gira, além disso, de ocidente para oriente a 1600 km/h medidos no equador. Em locais situados para norte e para sul do equador, a Terra desloca-se a uma velocidade inferior, uma vez que os pontos à superfície situados a norte e a sul do equador descrevem circunferências de menor raio no mesmo intervalo de tempo.
Se o ar se mantivesse imóvel enquanto a Terra se deslocava sentiríamos um vento constante soprando de leste para ocidente que, no equador, atingira velocidades de cerca de 1600 km/h. Noutras regiões do planeta, as velocidades de deslocação seriam menores. Uma vez que nada disto sucede, a rotação da Terra não pode ser a principal responsável pelo aparecimento de ventos.
A primeira tentativa de resposta foi protagonizada por Halley ao referir que, se toda a atmosfera da Terra fosse aquecida de forma uniforme, o ar permaneceria imóvel e não se poderia falar de ventos. Contudo, como é do conhecimento geral, o Sol é mais intenso nos trópicos e como tal o ar quente dilata-se, torna-se mais leve e sobe, sendo o lugar deixado vago, preenchido pelos ventos mais frios do norte e do sul. Este movimento de ar frio está na origem dos ventos alísios. Apesar de Halley não estar na posse de todos conhecimentos para explicar este fenómeno viria a ser explicado por um conterrâneo seu, de nome George Hadley.
O ar frio, proveniente do Norte, desloca-se a uma velocidade inferior à do ar existente na região do equador. Ao deslocar-se para sul, esse ar mais frio conserva a sua lentidão, atrasando-se relativamente ao movimento de rotação da Terra, de ocidente para oriente. E assim, o vento dá a impressão de estar a soprar do quadrante nordeste. O mesmo efeito combinado de rotação da Terra com o movimento mais lento dos ventos que sopram a sul do equador faz com que esses ventos pareçam soprar de sudeste. Um outro fenómeno resultado das diferentes velocidades de rotação da Terra em vários pontos do planeta, é o Efeito de Coriolis. Este efeito pode levar o ar a girar em círculos com maior ou menor força, provocando os vulgares temporais, furacões e mesmo tornados.
Apesar de não ser um fenómeno totalmente compreendido, os ventos são importantes porque permitem a climatização do planeta de modo que as zonas quentes são sejam excecionalmente quentes e as zonas frias muito frias. Na próxima edição iremos continuar a compreender melhor mais alguns fenómenos do dia a dia.
Por: António Costa