Aguarda-me na estação onde já não há comboios. A estação tem guardas mas não tem passageiros. A estação é bonita e por isso está à venda. Podes comprar aquilo como um dia alguém comprará o hospital da Misericórdia, ou a cooperativa da fruta, ou quem sabe se o próprio Politécnico. Acumulam-se os prejuízos nos espaços públicos e o Politécnico é dos mais famosos. Os alunos chegam de longe, mas nunca de comboio. Os professores são mais exigentes que em Coimbra, ganhando o campeonato do chumbo ao estudante. Os cursos com pouca gente tendem a ser fechados. E lá vão três pombinhas a voar. Depois do quartel, antevejo magro fim ao Politécnico. Acabar com os poucos comboios rápidos que ligam a Guarda a Lisboa e Coimbra é reduzir os atractivos (poucos) que havia em estudar por aqui. Com o preço da gasolina a caminho dos dois euros fica mais caro viajar que dormir na Guarda. Ó da Guarda, que isto é roubar. E o isolamento é a matéria mais importante a combater. Uma Guarda sem transportes e sem uma ligação atraente e barata pode estar a asfixiar. Ó da Guarda, que me falta o ar. Espantosamente não li os protestos veementes do presidente da Câmara Municipal. Acho que até aplaudiu. Para este retrato, meu caro Valente, – o porteiro, o que veio desligar a luz, mais vale ser amigo do Marques Mendes. Aguarda-me em Lisboa.
Por: Diogo Cabrita