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Água sem qualidade para 25 por cento da população do distrito

Dados da Sub-Região de Saúde da Guarda revelam que fontanários são a única fonte de abastecimento para quatro mil pessoas

Entre 20 a 25 por cento da população do distrito da Guarda tem água da rede sem qualquer tipo de tratamento, nem mesmo a desinfecção por cloro. Esta é a principal conclusão do programa de vigilância da água de consumo humano realizado pela Sub-Região de Saúde no ano transacto. Os resultados foram apresentados na última sexta-feira num seminário sobre a temática e revelam ainda que em 2004 mais de 2.300 habitantes consumiram água com vestígios de alumínio, ferro, bromato e arsénio, enquanto que numa localidade do concelho de Trancoso foi detectada radioactividade na rede.

Trata-se de dados de vigilância, e não de controlo, que proporcionam uma visão bem realista do sector no distrito. O estudo revela que 98,9 por cento da população é abastecida por 425 sistemas de captação (cem dos quais existem só no concelho da Guarda) e que 98 por cento tem água ao domicílio. Contudo, em 2004 ainda havia quatro mil pessoas cuja única fonte de abastecimento eram os fontanários. Por outro lado, a Sub-Região de Saúde constatou que dos 425 sistemas referenciados apenas 12 eram de origem superficial e abasteciam cerca de metade da população do distrito. Os restantes são captações de origem subterrânea, com a agravante de só 3,5 por cento dessas origens terem protecção sanitária, mas que não está de acordo com a legislação em vigor. Apenas 18 sistemas, que abastecem 50 por cento da população total, tinham tratamento fisico-químico, concluindo os responsáveis da Sub-Região de Saúde que 73 por cento do total da população é abastecida por água potável. O restante recebe o precioso líquido sem desinfecção. Para Manuela Estêvão, que apresentou os dados, estes são problemas antigos, «mas a situação tem melhorado».

A técnica superior da Sub-Região de Saúde garante mesmo que a população abastecida com água não potável era «muito maior» em anos anteriores. Um cenário que tem vindo a alterar-se com a entrada em funcionamento, nos últimos dois anos, de alguns sistemas de abastecimento de origem superficial que garantem a melhoria substancial da qualidade da água. «Há concelhos que eram muito maus e melhoraram, caso de Pinhel e Almeida, agora abastecidos por grandes sistemas com controlo de qualidade e tratamento adequados. Mas ainda há municípios que mantêm sistemas antigos, como Aguiar da Beira ou Manteigas. Neste último caso, os problemas surgiram recentemente porque há muitas captações e um sistema de tratamento em que é difícil fazer o controlo», adianta. A responsável considera que a falta de qualidade da água em vários pontos de quase todos os concelhos do distrito tem a ver com as «más práticas de tratamento», pelo que defende uma desinfecção total do sistema para garantir a manutenção do cloro residual, porque «a contaminação pode estar na rede ou na torneira em casa das pessoas». Admite por isso que «grande parte» do problema do abastecimento no distrito ficará resolvido se estes problemas forem solucionados.

Manuela Estêvão defende igualmente a necessidade de voltar a vigiar os 457 fontanários referenciados para consumo no distrito. «Com o abastecimento público na casa das pessoas, as autarquias acharam que não haveria interesse em fazer o controlo e a manutenção dos fontanários. Acontece que, infelizmente, ainda temos muitas situações em que eles são o único recurso», diz. Por outro lado, admite haver fontes cuja água continua a ser de melhor qualidade que a da rede pública. «É necessário vigiá-los e divulgar os resultados das análises às populações, que continuam a abastecer-se em locais sem qualidade ou qualquer tipo de vigilância ou controlo», avisa. E adianta que dos 334 vigiados neste programa, apenas 92 tinham água potável no dia das recolhas de amostras.

Luis Martins

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