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Adversidades

Editorial

1. A tragédia bateu à porta de uma família da Guarda de forma fulminante. O acidente de Chamadouro, no IP3, próximo de Santa Comba Dão, fez três vítimas mortais. E recordou-nos a perigosidade daquele itinerário, onde os acidentes são habituais e as vítimas são muitas. Enquanto choramos as vítimas deste trágico acidente, não podemos deixar de constatar a falta de segurança do IP3 que, juntamente com o IP4, é porventura a mais perigosa e fatal estrada portuguesa.

Contrariando a tese que faz escola a partir de Lisboa, de que a construção de uma rede de autoestradas nos últimos 15 anos foi um erro dos governos, a verdade é que graças a esse enorme investimento houve não só o desencravar do país, estruturando-o e criando condições de desenvolvimento, mas também reduziu sobremaneira a sinistralidade nas nossas estradas. A tal política de betão que tanto se critica, mas de que todos somos beneficiários. Há alguns anos a operação Páscoa tinha centenas de acidentes, dezenas de feridos e mortos. Em 2012, essa operação teve apenas uma morte a lamentar e grande decréscimo de acidentes e feridos. Essa redução tem a ver com muitas circunstâncias, da crise a um eventual aumento de civismo dos condutores, mas tem essencialmente a ver com a existência de melhores estradas (autoestradas): mais seguras, rápidas, com melhor pavimento, com viadutos que eliminam cruzamentos perigosos, etc. O preço é muito caro (e aí andam os famosos ataques às PPP’s), mas a verdade é que há 30 anos havia em Portugal 25 quilómetros de autoestrada entre Lisboa e Vila Franca de Xira e 10 entre Porto e Carvalhos, e no resto do país morria-se todos os dias em estradas sinuosas e sem segurança (e com Cavaco Silva em vez de autoestradas construíram-se itinerário principais, verdadeiras ratoeiras para os condutores). Já nos esquecemos que foi graças a esse extraordinário investimento, em parceria público-privada, que se acabou com o IP5 onde a morte batia à porta tantas vezes. E se é verdade que não se entende a necessidade de construção da A13, ou da A17, ou da A29, ou da A42, para dar alguns exemplos, outras autoestradas fazem todo o sentido. Infelizmente, esta semana, para uma família da Guarda, o IP3 não foi substituído por uma autoestrada.

2. A imagem, que as televisões mostraram ao país, das filas de estrangeiros a comprarem o dispositivo para viajarem nas autoestradas portuguesas junto às fronteiras, expôs o vergonhoso sistema que o Governo introduziu. Se no dia-a-dia a situação é incómoda mas aceitável (!?), com o acréscimo de visitantes na Semana Santa foi aberrante e embaraçoso o que se viveu junto aos postos de venda. Sem condições e mal sinalizados os placares/quiosques foram mal concebidos e criam um ambiente completamente obtuso que deixa pouca vontade aos estrangeiros de regressarem a Portugal, em especial aqueles que vinham passear por um ou dois dias. Fica um conselho, heterodoxo mas razoável como resposta à ignomínia instalação de tão imbecil sistema (que foi o que dei a todos os estrangeiros que por estes dias “do lado de lá” me perguntaram como fazer): não paguem!

Luis Baptista-Martins

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