Arquivo

«Admito voltar a recorrer a médicos espanhóis»

Cara a Cara – Guarda

P – Quais os projectos prioritários que pretende implementar na Sub-região de Saúde da Guarda?

R – Neste momento é um bocado difícil termos projectos próprios, porque vai haver, a nível nacional, uma estratégia global em relação às sub-regiões. Ora se fala que são para extinguir, ora se diz que ficarão para a contratualização de certos serviços técnicos. Portanto, nesta fase é prematuro dizer seja o que for em relação ao futuro deste serviço. A minha opinião pessoal, e até como ex-directora do Centro de Saúde da Guarda, é sobretudo a de que há secções das sub-regiões que já não terão razão de existir actualmente. Já passaram mais de 20 anos desde que começaram e há certas coisas que, neste momento, os Centros de Saúde, com autonomia, podem realizar. Haverá outras competências técnicas que pertencem à Sub-região que terão que ser feitas. Nesse caso poderá passar por ficar uma pequena Sub-região para, nomeadamente, conferências de factura, apoio jurídico, etc, que não é necessário ter em cada Centro de Saúde já que se pode centralizar. Mas no caso da estratégia global do ministério vir a ser mesmo o desaparecimento das sub-regiões, aí teremos que fazer um “outsorcing” ou uma contratualização com alguém para realizar essas tarefas.

P – Está previsto algum Sistema Local de Saúde para o distrito?

R – Pelo que sei ainda não há definição de qualquer Sistema Local de Saúde para o distrito. Neste momento, aqueles que já estarão formulados mais perto de nós serão em Castelo Branco e na Covilhã. Para o distrito ainda nem sequer se falou, formalmente, sobre o assunto.

P – Mas o que pensa desta opção do Governo?

R – Já trabalhámos nesse projecto quando era directora do Centro de Saúde da Guarda. Eram os chamados Sistemas Locais de Saúde com Centros de Saúde de terceira geração, e o da Guarda foi um dos centos piloto. A grande virtude dos Sistemas Locais de Saúde é podermos gerir conjuntamente recursos, sejam eles quais forem. É portanto uma boa medida, até porque sabemos há desaproveitamentos pelo facto de estarmos em unidades desarticuladas.

P – O novo director do Hospital da Guarda falou numa maior aproximação aos Centros de Saúde. Qual o papel que a Sub-região pode desempenhar para o sucesso desta medida?

R – A Sub-região de Saúde da Guarda tem uma coordenadora que está 100 por cento empenhada nessa articulação, que leva a benefícios, quer de acessibilidades, quer de custo/benefício em relação aos actos praticados. Logo, estarei totalmente disponível para isso.

P – Há falta de médicos no distrito?

R – Neste momento, estamos, pontualmente, com três ou quatro falhas – Sabugal, Seia, Guarda e Foz Côa. A preocupação não é tanto do imediato, mas do futuro. Quase todos os médicos dos cuidados de saúde primários estão na mesma faixa etária. Portanto, quando chegar a idade de reforma de um, os outros estarão muito próximos. Aí, talvez daqui a 10 anos, é que será o grande problema. Neste momento, está a decorrer um concurso de ingresso de cinco médicos e esperemos que haja concorrentes para todas as vagas.

P – Como pretende contrariar esta tendência da falta de médicos? R – Há cinco anos, quando fiquei sem médicos no Centro de Saúde da Guarda, tomei a iniciativa de pedir apoio a Espanha e não me envergonho de o dizer. Desde essa altura que os médicos de Salamanca estão em contacto connosco e sabem que são bem recebidos. Mas devo sublinhar que essa nossa aposta também se modificou. É que actualmente existe uma Faculdade de Ciências da Saúde muito perto e, nomeadamente o Centro de Saúde da Guarda, que é o que conheço melhor dos 14 do distrito, tem apostado muito na colaboração com a Universidade da Beira Interior. Nesse aspecto, queremos cativar gente para que fique nos nossos Centros de Saúde.

P – Mas admite então voltar a apostar em médicos espanhóis?

R – Se os portugueses nos falharem, naturalmente que sim. É uma via que ficou aberta por ela própria.

P – Que estratégia conta implementar para que sejam cada vez mais os Centros de Saúde a fazerem uma triagem antes dos doentes se dirigirem às Urgências do hospital?

R – Há 12 Centros de Saúde com Serviço de Atendimento Permanente (SAP) autónomos e que já fazem a triagem dos doentes que vão para a Urgência. O Centro de Saúde de Seia não tem SAP porque os colegas fazem eles próprios a Urgência do Hospital de Seia e, na Guarda, o SAP do Centro de Saúde serve de triagem ao serviço de Urgência. Portanto, neste momento, o serviço de Urgência do Hospital da Guarda, pelo menos das oito da manhã às oito da noite, só recebe doentes em emergência e que têm que entrar logo, ou doentes já referenciados.

Sobre o autor

Leave a Reply