Ainda não foi desta que o mais famoso doce conventual de Trancoso foi certificado como Especialidade Tradicional Garantida (ETG). Segundo revelou a Associação Empresarial do Nordeste da Beira (AENEBEIRA) na última segunda-feira, o pedido de registo das sardinhas doces não foi considerado «prioritário» para 2009 pelo Gabinete do Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura.
É mais um contratempo num processo que já leva três anos e foi criticado pelo presidente da direcção da associação, para quem esta decisão é «contrária à legislação comunitária existente sobre esta matéria». Insatisfeito com o desfecho, António Oliveira lamenta que as autoridades competentes não considerem «relevante e prioritária» a certificação das sardinhas doces, «pese embora todo o empenho da AENEBEIRA que, em nome dos produtores, tem procurado defender este produto tradicional, insistindo na sua certificação». Recentemente, a instituição, que solicitou a certificação em Julho de 2006, quis saber junto do Ministério da Agricultura como estava o pedido de registo da marca, ao abrigo do REG. (CE) nº 509/2006 do Conselho. A resposta veio na semana passada do Gabinete do Planeamento e Políticas, entidade competente nesta matéria, segundo o qual, «analisados os critérios para o nome de sardinhas doces de Trancoso, não foi considerado prioritário para o ano de 2009», lê-se no documento a que O INTERIOR teve acesso.
António Oliveira recordou a importância desta certificação como sendo «um instrumento importantíssimo para evitar a descaracterização deste produto, salvaguardando a sua genuinidade e, consequentemente, a sua reputação». Desengane-se quem pensa que as sardinhas doces de Trancoso têm escamas ou espinhas, pois estas iguarias possuem tripinhas de amêndoa e são uma especialidade deixada pelas irmãs do antigo convento de Santa Clara há mais de 300 anos. Trata-se de um produto tradicional feito à base de ovos, amêndoa, chocolate, açúcar, azeite, sal e canela. Com a extinção do convento a receita das sardinhas doces manteve-se na tradição local, primeiramente nas casas abastadas e mais tarde popularizou-se entre os habitantes, com o aparecimento de diversas doceiras. Para a popularização do seu fabrico e consumo muito contribuíram, já nos meados do século passado, algumas doceiras de Trancoso, como Maria Luísa Bogalho que, com a sua irmã, Maria Antónia Bogalho, fundou em 1947 a pensão das “Bogalhas”. E ainda Maria do Céu, popularmente conhecida por “Céu do Doro”, que, entre os anos 40 e a década de 70, encantou os seus clientes com estas deliciosas doçarias.
Luis Martins