Perdoar-me-ão insistir em escrever sobre a minha terra natal, mas considero que a Assembleia Municipal de Trancoso, há cerca de um mês, que contou pela primeira vez com a presença do agora deputado municipal e ex-presidente da câmara local, Júlio Sarmento, merece alguma reflexão.
Nesta Assembleia houve o consuetudinário mais do mesmo e algo totalmente inesperado, pelo menos para mim. Percebeu-se novamente que o PS mais do que para governar está para distrair. Mais do que para encarar o futuro está para condenar o passado. Mais do que para ser está para parecer. No PSD também não houve novidades. Entre a mediocridade salvou-se a distinção argumentativa do doutor Júlio Sarmento. Como era de esperar, o ex-presidente defendeu a sua prolongada vigência enquanto edil.
Entre muitos argumentos válidos e reveladores de constância intelectual, notei, surpreendido, que o atual deputado municipal ignora o papel que a sociedade trancosence, que o elegeu, lhe atribui. A própria pose de Júlio Sarmento indicia que ainda não assimilou que o seu tempo político, em Trancoso, terminou e não mais voltará. Esta ignorância será facilmente explicada pelo afastamento contínuo e constante face à comunidade local, exatamente o oposto daquilo que faz o atual presidente Amílcar Salvador.
A falta de mundividência de Salvador é contraposta pelo constante, por vezes até exagerado, contacto com o cidadão comum. Já Sarmento contrasta o conhecimento do país e do mundo com um total desconhecimento da sociedade que o rodeia e o elegeu. Sarmento não percebeu, ainda, que as pessoas que tantas vezes nele confiaram olham, agora, para ele com profunda desconfiança, quando não desprezo. Como no filme “Adeus Lenine”, o ex-presidente vive uma ignorância inebriada pelo passado glorioso. Outro exemplo poderia ser o dos muitos futebolistas que não quiseram aceitar o fim da carreira e terminaram assobiados por quem outrora os aclamou.
Mas da dita Assembleia subjaz uma análise crítica fundamental, que compreendo como total desconsideração de Júlio Sarmento para consigo próprio. Questionado sobre uma opção política plasmada em determinado documento, onde constará a sua assinatura, o líder oficioso do PSD local colocou em causa a veracidade, se não do documento, da assinatura que poderia não ser exatamente a sua. Com formação em Direito, saberá estar a aventar a prática de um crime grave.
De acordo com as informações que me foi possível recolher, não consta que o doutor Sarmento tenha iniciado uma ação em tribunal, contra desconhecidos ou alguém em particular, a fim de fazer justiça perante um crime punível com pena de prisão. Será que não acredita nos mesmos tribunais que deram razão à sua escolha para candidato à Câmara da Guarda? Aguardo e, certamente, também os cidadãos de Trancoso, os militantes e simpatizantes do PSD-Guarda pelo apuramento de quem poderá ter-se feito passar pelo, na altura, presidente da Câmara de Trancoso. Ou houve crime ou a palavra do deputado municipal não tem valor.
Por: David Santiago