P – Como se sente como director? Disse na tomada de posse que não se sente “na pele do Sr. Reitor”…
R – Sinto-me exactamente na mesma como me sentia como Presidente do Conselho Executivo. Com essa expressão quis acalmar as pessoas porque quando a legislação foi publicada houve a tendência de dizer que o novo regime era “o regresso do sr. Reitor”. Quis assim dizer aos colegas que não é pelo facto de o poder estar concentrado numa pessoa que o meu comportamento se altera na liderança da escola. O director vai-se munir de uma equipa e é como tal que vai trabalhar, embora seja ele o responsável.
P – Mas o novo regime de gestão pretende “lideranças fortes”…
R – Não é uma lei que determina que as lideranças são fortes ou fracas. São as pessoas. É o seu carisma ou a falta dele que determina a força ou fraqueza das lideranças. E já no anterior regime havia lideranças fortes e outras fracas. Recentemente a Inspecção Geral de Educação, em duas acções, uma de Avaliação Externa e outra de avaliação integrada, concluiu que esta Escola tinha uma liderança forte. Qualquer liderança precisa de muita força e persistência para que as metas sejam atingidas e se procurem objectivos ambiciosos.
P – Na tomada de posse disse que ficava “com gosto”. Era um “candidato natural” ao novo cargo?
R – Quando disse isso, queria dizer que se não me sentisse realizado neste lugar ou que a minha permanência era um fardo para a escola, eu não me candidataria.
P – Sente que é a pessoa certa no momento certo, isto é, é um homem preparado para enfrentar tempos difíceis? Sente que é uma pessoa moderadora e facilitadora de entendimentos?
R – No decorrer do ano passado, diante das dificuldades verificadas com a avaliação de desempenho dos professores, acho que mostrei que era possível dialogar com todos e encontrar posições de entendimento e portanto também aí mostrar uma liderança forte. Acho que apesar de todas as dificuldades consegui estabelecer alguma conciliação no sentido de serenar os ânimos e, em certa medida, de minimizar os prejuízos que algumas atitudes mais radicais poderiam vir a ter em termos de progressão da carreira dos professores. Foi o que fiz através da solução que vingou na altura da definição de objectivos: eu propus-me definir os objectivos para os professores que optassem por não os entregar por iniciativa própria, de forma a não os prejudicar. Essa diplomacia e abertura permitiu resolver aquilo que à partida era complicado.
P – As obras de requalificação da escola foram por assim dizer o “empurrão” que faltava para a sua recandidatura?
R – Sim, terá sido mesmo uma das razões principais da minha candidatura. Era um projecto que eu já tinha em mente há muito tempo, para o qual eu tinha dado o meu contributo e que não fazia sentido eu abandonar neste momento.
P – Como interpreta o facto de não ter havido mais candidatos? Considera que há unanimidade relativamente à sua pessoa?
R – Posso entender isso, em termos de comunidade escolar e educativa, como um certo consenso em volta da minha pessoa. Por outro lado, também, dada a situação actual, não haverá muita gente interessada em dirigir uma escola. Alguém que tem a noção das responsabilidades pensa duas vezes em aceitar um cargo destes. No entanto, depois de me ter proposto a este cargo, a candidatura era para levar até ao fim, independentemente do resultado. Teria portanto estado disponível para discutir esta eleição com quaisquer outros candidatos que tivessem avançado.
P – No seu Proj. Intervenção insiste muito na monitorização das práticas pedagógicas. Refere-se sobretudo aos Planos de Recuperação e Acompanhamento e à aplicação dos Critérios de Avaliação… Reconhece que há problemas nessas áreas e que a escola tem ainda que crescer?
R – A escola tem feito trabalho meritório nesse campo nos últimos anos. E esse trabalho de articulação não pode ser considerado de “incipiente”, como a Inspecção há tempos considerou e que eu rebati. Mas há ainda aspectos que podemos melhorar. Por exemplo, o peso que os vários departamentos atribuem nos critérios de avaliação às atitudes e à avaliação contínua na aula é muito variado de disciplina para disciplina e isso não joga bem na avaliação global do aluno. Os departamentos terão que trabalhar para haver maior consonância dentro de cada departamento, de cada disciplina, de cada ciclo, de cada ano e entre os vários departamentos. O peso que as atitudes têm nos 3 anos do 3º Ciclo também não fará sentido que seja o mesmo já que se supõe que os alunos crescem nessas competências. Ora às vezes isto é visto de maneira mais clara por quem olha de fora no sentido de que é preciso que certos objectivos sejam reequacionados.
P – E quanto aos planos de recuperação e acompanhamento?
R – Às vezes sente-se alguma dificuldade de acompanhar os planos, tendo em conta a diversidade dos intervenientes. E sente-se que algumas das medidas apenas constam do papel. Por exemplo, não temos claramente a noção se os pais cumprem a parte que lhes é atribuída nesses planos.
P – As metas que estabelece para os próximos 4 anos são exequíveis quanto ao abandono, ao insucesso e ao diferencial avaliação externa/interna?
R – Quanto às metas de sucesso, elas parecem-me viáveis.
O abandono escolar, por seu lado, é quase residual no Ensino Básico. No Secundário houve este ano uma redução de quase 75% nas anulações de matrícula. Na situação das provas de recuperação, verificou-se que houve algum cuidado dos alunos em não cair segunda vez na mesma situação de faltas excessivas, situação que os poderia levar a chumbar. O Estatuto do Aluno neste ponto prevê medidas burocráticas (muitos contactos) e caras (em comunicações) mas teve para o abandono escolar efeitos positivos. Mas a Lei precisa ainda de ser mais burilada em função da experiência deste ano.
Quanto ao diferencial aval. ext. – aval int., ele é algo aleatório. Se o grau de exigência dos exames não for muito elevado, é natural que as duas avaliações se aproximem. De qualquer modo a escola deve trabalhar para que os resultados dos exames sejam superiores à média nacional e para que eles se aproximem da avaliação externa. E este diferencial é até muito variado de disciplina para disciplina.
P – Um contrato de autonomia pode trazer boas perspectivas de “crescimento” da escola?
R – O contrato de autonomia permitirá fazer em melhores condições a gestão pedagógica, curricular e de recursos materiais e humanos. O efeito será de facilitar o desenrolar das actividades organizacionais. As primeiras 20 escolas que entraram em contrato de autonomia têm revelado que têm mais margem de manobra não tanto em termos financeiros mas mais ao nível pedagógico de forma a gerir os recursos humanos de acordo com as necessidades da escola. Por exemplo, diante das dificuldades, seria possível organizar certas disciplinas por níveis, permitindo mais flexibilidade e recuperação dos alunos passando eles de uns níveis para outros segundo as suas necessidades. E isso tem trazido resultados em termos de sucesso.
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António Joaquim Fernandes Soares, natural dos Trinta (Guarda), tem 58 anos e passou sucessivamente pelo cargo de vice-presidente da Comissão Instaladora da Escola Sec. Aldeia do Souto em 1980/81 e de Presidente do Cons. Directivo da nossa escola em 1985/86, tendo passado em seguida para as funções de orientador de estágio no Instituto Politécnico da Guarda de 1986 a 1988. Assumiu depois as funções de coordenador distrital da Extensão Educativa de 1988 a 1993, após o que regressou à escola. Desde 1999 que desempenhava aqui o cargo de Presidente do Conselho Executivo. Foi eleito Director da Escola por 4 anos no passado dia 13 de Maio e tomou posse a 17 de Junho.