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Aberrações rodoviárias

A introdução de portagens nas ex-SCUT trouxe duas surpresas desagradáveis: a primeira foi a deslocação, por motivos económicos, de milhares de condutores para as estradas nacionais, fazendo recuar o país para um período anterior à adesão à União Europeia e aos seus milhões “envenenados”. Como uma desgraça nunca vem só, vemos agora pulular nessas estradas nacionais uma miríade de lombas de redução de velocidade. No passado serviam milhares de viaturas por dia e as ditas não existiam, mas atualmente servem muito menos, o que torna a situação especialmente ridícula, absurda e excessiva.

No caso particular da estrada nacional 16 a viagem pode tornar-se especialmente insuportável para quem viaje até Pínzio. Arrifana (três), Gonçalbocas (três), Alto de Valdeiras (uma), Jarmelo (uma), Almeidinha (duas), Granja do Ulmeiro (duas). Doze lombas de redução de velocidade em menos de 20 km, o que dá uma média superior a uma lomba por cada 1.800 metros!

Gostaria de perguntar quem autoriza semelhante atentado ao normal fluxo de trânsito. Se são os presidentes de Junta, se é a Câmara Municipal a pedido dos presidentes de Junta, se é o IEP. Quem quer que autorize estas aberrações está a pôr em perigo os automobilistas e respetivos ocupantes e deveria ser processado judicialmente em caso de acidente grave por projeção da respetiva viatura numa destas lombas. E não me venham com a conversa de que existe sinalização vertical. Esse argumento é o mesmo que desculpa a existência de pontos negros em muitas vias de comunicação. Uma via tem que ser responsavelmente concebida para poder lidar com as distrações do condutor. Colocar, gratuitamente, obstáculos que lhe possam provocar um acidente é, simplesmente, criminoso. Se durante o dia mal se veem, de noite tornam-se especialmente difíceis de distinguir do resto do asfalto, pois nem sequer se encontram iluminadas e, a avaliar pela quantidade de marcas longitudinais pós-lomba, parece-me que já estão a provocar alguns danos materiais e, quiçá, humanos.

Mas, se é uma redução radical das velocidades praticadas que se pretende, porque não fazer uns buracos propositados na estrada, umas “chicanes”, como na Fórmula 1, ou plantar umas árvores ao eixo da via (em vez do traço contínuo)? Parece ridículo, não é? Tão ridículo como as “obras de arte” objeto deste texto.

O que transparece é que a solução encontrada obedeceu à lei do menor esforço. Vemos em muitos locais, por esse país fora, semáforos de velocidade que nunca colocam em perigo a vida de quem circula e permitem aos peões fazer travessias seguras. Mas por aqui, pobretanas como somos, foi mais fácil espetar com um pedaço de asfalto a ferver e arredondá-lo com um cilindro, estando, quem permitiu tal alarvidade, a marimbar-se para as consequências do seu ato (provavelmente um qualquer engenheiro sentado à secretária numa direção em Coimbra ou numa qualquer Câmara Municipal)).

Que fique claro que este tipo de obstáculos numa urbanização cumpre a sua função e acarreta muito menos riscos para os condutores, uma vez que as velocidades de circulação em circuito urbano também são, à partida, bem menores. Mas para quem circula a 90 km/h ter que reduzir para 30 km/h (muitas destas lombas estão logo junto às placas de localidade) é muito violento e desconfortável e para quem não as vislumbra a tempo podem acarretar perigo de vida.

A ideia dos “manda-chuva” locais, regionais e nacionais é óbvia: por um lado, vão retirar das estradas nacionais os poluentes e ruidosos camiões e muitos veículos ligeiros, vencendo-os pelo cansaço e desconforto, forçando-os a contribuir para a amortização das ex-SCUT contíguas; por outro, permitem manter a pacatez das localidades atravessadas, muitas delas quase desertas, e reduzem os custos de manutenção, agora, entregues às Câmaras Municipais.

Mas enquanto houver escolha haverá sempre aventureiros que irão sujeitar-se a uma viagem arriscada por estas vias para pouparem alguns euros aos seus depauperados salários. Urge, portanto, substituir estas aberrações rodoviárias antes que se tornem epidémicas.

Por: José Carlos Lopes

Comentários dos nossos leitores
ESTER ester@gmail.com
Comentário:
UMA ABERRAÇÃO! ESTAS LOMBAS… DEVIAM SER OS SENHORES AUTARCAS OU PRESIDENTES DE JUNTA A PASSAR POR LÁ…MAS O ZÉ POVINHO É QUE PAGA AS FAVAS!!!! ANDAMOS CADA VEZ MAIS PARA A RETAGUARDA COM ESTAS MENTES TÃO BRILHANTES….
 
Dulce Pires lena_123@live.com.pt
Comentário:
Acho vergonhoso , será que a intenção é obrigar os automobilistas a ir pela A25?? É o que parece, porque essas lombas não oferecem segurança nenhuma pelo contrário, são um perigo para os condutores e são óptimas para ajudar na oficina. Só mesmo no nosso país é que isto se vê…
 

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