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A voragem da pobreza

Bilhete Postal

Imaginem uma casa com alpendre, com caleiras, com alguma cerâmica e uns relevos e uns frescos. Tudo isso é excesso e tudo isso é desperdício. Retiram-se e temos uma casa cinzenta, sem alpendres, sem varandas, sem cores, sem toques de mestre. Seca, diríamos da fruta. Uma casa austera – adjectivaríamos na política. O que se fez à cidade de Coimbra recentemente foi arrancar-lhe os carris da linha da Lousã, chamar-lhe Metro Mondego e depois fechar tudo em terra seca. Aos dois Hospitais centrais destinou-se um caminho comum. Provavelmente veremos atrasar a estação de comboios, a reorganização dos terrenos da Pedrulha e muitos outros projectos. Coimbra aperta o cinto e vê um Presidente de Câmara sair pela porta pequena. Saio farto do Governo – disse. Mas competia-lhe estar na rua, exigia-se que fosse Sinatra, que fosse “a voz” pelas convicções. O facto é que abandonou um navio com rombos enormes e deu “às de vila Diogo”. O Metro Mondego empregou dez anos de direcções, de altos salários, de gente conhecida, e termina com o arrancamento de uma linha velha, de automotoras gastas e a criação de nada. Hoje, não há comboio, não há carris, há estações abandonadas. Esta é uma política abrangente que percorre Portugal. O que se mantém é uma desastrosa travessia ferroviária do Tejo e uma linha que dá prejuízo muito superior a vários Metros Mondego. Mas é lá para Lisboa já se vê. Vivemos a voragem da pobreza. A austeridade pelo preço e nunca pela qualidade.

Por: Diogo Cabrita

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