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A vitalidade do poder local no desenvolvimento da região*

Opinião 15º Aniversário

A Beira Interior mudou a sua face e de uma forma notória. Modernizou-se e valorizou-se, ainda que isso não tenha sarado velhas feridas da interioridade.

Desde logo melhorou a sua rede viária com a A23 e A25 – um salto socioeconómico para toda a região, apesar do injusto pagamento de portagens. Aqui uma referência para a abertura do túnel da Gardunha que deu uma mobilidade extraordinária dentro da própria região. O programa POLIS também permitiu uma recuperação dos nossos espaços urbanos fundamentais para a qualidade de vida das populações e para a atração de fluxos turísticos. A consolidação do ensino superior permitiu abrir novas escolas nos Politécnicos, afirmar cursos na UBI e criar a Faculdade de Ciências de Saúde – a par com a criação novo Hospital da Covilhã. Estas unidades de ensino permitiram ainda uma bolsa de investigadores que colocam frequentemente a Beira Interior no roteiro da inovação nacional e criando “startups” de base tecnológica… É o caminho para o desenvolvimento industrial futuro, quando as indústrias de mão-de-obra intensiva estão a fechar. Para isso, foram fundamentais a criação de parques industriais e de incubadoras de empresas que permitiram criar condições propícias para o empreendedorismo privado. Os programas de intercâmbio com Espanha também foram importantes para o desenvolvimento desta zona da raia.

Foi fundamental a implementação do Regadio da Cova da Beira e o retomar da atividade agrícola, que permitiu a crescente afirmação de alguns sectores como o da fruta, e o aparecimento de produtores de vinho de enorme qualidade. Há uma tendência para a afirmação dos produtores locais, com marcas regionais no campo da gastronomia e do artesanato. Muito deste desenvolvimento vem a par de um investimento extraordinário na promoção turística da região. São inúmeros os cartazes regionais com a promoção dos municípios e dos seus valores patrimoniais e culturais. O turismo é mesmo o sector que tem mobilizado mais recursos, públicos e privados, mas também o que tem apresentado um retorno mais imediato, não só aos grandes grupos, mas também para economias mais locais e familiares.

Devo sublinhar a vitalidade do poder local no desenvolvimento de toda a região. Apesar de uma política centralista do Estado e de concentração de recursos no litoral, as autarquias têm feito milagres no progresso da região. São o grande êxito do “25 de Abril”. Se não fosse pelas autarquias, o interior do país estava desertificado. As Câmaras Municipais são muitas vezes o motor económico dos concelhos, apoiando as empresas e o associativismo, e sustentando uma rede de apoio social às famílias. Hoje, os cidadãos viram-se para as autarquias a exigir o que o Governo não lhes garante, pelo que as autarquias se constituíram como pequenos Estados em substituição do grande Estado quase sempre ausente e autista. São responsáveis, não por 15 mudanças na Beira Interior, mas pela mudança de todo o país.

* Título da responsabilidade da redação

António Dias Rocha*

* Presidente da Câmara Municipal de Belmonte

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