A vida de Hermínio deu um filme que está a ser um sucesso. “Ainda há pastores?”, de Jorge Pelicano, volta esta semana ao ponto de partida com exibições programadas para Gouveia, amanhã à noite, e Guarda, na quarta-feira. O documentário/reportagem, galardoado com o prémio Lusofonia e uma menção honrosa do Júri da Juventude na última edição do Cine’Eco, tem surpreendido tudo e todos com um relato desassombrado da vida dos últimos pastores nos Casais de Folgosinho.
A sessão no Teatro-Cine de Gouveia é aguardada com alguma expectativa, já que os protagonistas vão ver o filme pela primeira vez, sendo que alguns deles nunca foram ao cinema. Desde a sua estreia em Outubro, em Seia, “Ainda há Pastores?” já foi visto por milhares de espectadores – fora do circuito comercial – em várias cidades do país. Como se não bastasse, no final do ano a SIC – o jovem realizador é repórter de imagem da estação – resolveu dar uma ajuda na divulgação, tendo transmitido o documentário na SIC Notícias na noite de 25 de Dezembro e repetidas vezes em horário nobre no Jornal da Noite. Exibições que potenciaram ainda mais o “fenómeno”. Em
Novembro, o realizador afirmou a “O Interior” que um dos objectivos do filme era «dar a conhecer esta gente simples e genuína que ainda existe e está perdida nos montes da Serra da Estrela». Mas o que Jorge Pelicano, antigo aluno da Escola Superior de Educação da Guarda, descobriu nos Casais de Folgosinho, um vale recôndito entre Gouveia e Manteigas, foi «um mundo completamente à parte do nosso» e um isolamento que o fascinou. «São homens e mulheres que ainda vivem um pouco à moda antiga, com aquelas tradições e um modo de vida que eu julgava já não existir», acrescentou.
A crítica também parece ter gostado. Por exemplo, Lauro António, director do Cine’Eco, não lhe poupa elogios. «Não se trata de uma esperança, mas de uma certeza, mais ainda: uma revelação. O filme é delicado na composição, sumptuoso de imagem, magnificamente enquadrado, bem iluminado, Jorge Pelicano tem tudo para vir a ser um dos grandes documentaristas portugueses», prognostica. “Ainda há Pastores?” apresenta dois mundos diferentes, mas ao mesmo tempo distantes e próximos. Tudo se passa nos Casais de Folgosinho, um dos locais mais preservados da Serra da Estrela, onde residem aqueles que são considerados os últimos descendentes dos lusitanos. Cada casal é constituído por terras de cultivo, habitações rústicas, com telhados de colmo e zinco, e currais para albergar os animais. Não há luz eléctrica, água canalizada, muito menos estradas e cada vez menos pastores residentes. «Hoje, os mais velhos vão morrendo e os novos fogem da dura sina de ser pastor. 365 dias por ano», refere a sinopse. Neste mundo destaca-se Hermínio. 27 anos [hoje com 32]. O pastor mais novo do lugar, «mas também o mais doido», é a personagem central desta jornada, trilhada ao som das cassetes de Quim Barreiros, o seu cantor preferido. Depois de Gouveia, “Ainda há Pastores?” será exibido quarta-feira no pequeno auditório do TMG e dia 24 na Cinemateca Portuguesa em Lisboa. Na Guarda, a sessão é complementada com uma exposição de fotografias de Rosa Silva no café-concerto, intitulada “Os últimos guardadores de rebanhos na Serra da Estrela”. A mostra está patente até ao final do mês.
Luis Martins