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A vantagem de saber ler

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Pareceria patético ser um homem desembarcando carregando livros escritos por si no Japão ou na China e não saber comunicar uma direção. Pareceria patético ser um tipo conhecedor de seis línguas e alojar-se em Xangai ou Pequim sem encontrar com quem falar. Pareceria patético porque, sabendo ler, desenvoltamente escrever e falar não se entenderia com ninguém pois o conhecimento era paralelo, sem intersecção. Um dominando as línguas europeias, outro fluente em concanin, mandarim, árabe e russo. Sabiam ler, sabiam literatura, tinham escrito textos intemporais mas sem tradutor seria a solidão. O encontro de cultura é pois o cruzamento, a capacidade de percecionar o outro, de lhe transmitir saber. A solidão privilegiada do conhecimento pode ser a solidão de uma biblioteca, a sorte da visão e a imensidão livresca, a vantagem de ter aprendido a ler e de memorizar as experiências e a imaginação plasmada de outros. O saber como lugar de encontro individual, como espaço de crescimento egoísta é um saber de chegar, sem propagação, sem dádiva. O saber particular, assim escolhido, é legítimo e pode ser cimento de personalidade. O saber mais atraente é o partilhado, o lecionado, o transmitido, mas também ele pode encontrar este constrangimento que é a vastidão do saber. Todos sabendo muito podemos ser incapazes de comunicar por particularidades tão evoluídas que de produzidas de modo paralelo nunca se entrecruzam.

Por: Diogo Cabrita

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