A dupla maravilha do jazz português está de regresso à Guarda no sábado à noite para a apresentar o seu último trabalho. Desta vez, Maria João e Mário Laginha trazem “Tralha”, mais Yuri Daniel (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) para um concerto único no grande auditório do TMG.
A voz e simpatia de Maria João e a genialidade de um dos mais conceituados pianistas nacionais da actualidade, Mário Laginha, são a garantia de um espectáculo inesquecível. Como foram as suas passagens anteriores pela cidade, uma das quais teve direito a concerto extra no auditório municipal tamanha foi a procura de ingressos. Estávamos em meados dos anos 90, no auge da carreira deste duo. Uma década depois o interesse nas suas criações permanece intacto, pelo que não será de estranhar uma lotação esgotada na sala principal do Teatro Municipal. Na bagagem vem “Tralha”, o seu mais recente álbum de originais. «Eis o que nós mais gostamos de fazer», garantem no texto de apresentação do CD, editado em 2004. «Juntámos a tralha que quisemos, quando quisemos. Utilizámos os sons que cada música ou canção nos pedia. Aproveitámos, e muito, não só os grandes músicos que tocaram e gravaram connosco, como as ideias que todos eles trouxeram», pode ler-se ainda como explicação para o título do trabalho. Mas “Tralha” é mais do que isso, apresentando-se quase como uma súmula da carreira de Maria João e Mário Laginha ao integrar elementos de todos os discos anteriores.
Ambientes “world”, orquestras, electrónica, improvisação, vocalizos com letra e vocalizos transformados em letra já fazem parte da imagem de marca de um duo que desafia catalogações e é hoje um projecto incontornável no universo jazzístico nacional. Maria João e Mário Laginha cruzaram-se pela primeira vez no início dos anos 80, quando o pianista foi convidado para integrar o quinteto daquela que era a nova e promissora voz do jazz português. Em 1983 saiu o primeiro disco do Quinteto de Maria João, nome que intitulou também o álbum. Contudo, a formação extinguiu-se em meados da década, abrindo espaço para projectos individuais. Reencontraram-se ambos em 1990 a propósito de um trabalho com grupo “Cal Viva”, onde tocavam Carlos Bica (contrabaixo), José Peixoto (guitarra) e José Salgueiro (percussões). O percurso comum arrancou três anos depois com “Danças”, o primeiro álbum conjunto. Passados estes anos, Maria João e Mário Laginha já editaram oito discos caracterizados pela constante inovação e capacidade de surpreender o público, com a definição de um estilo muito próprio dentro de uma extraordinária diversidade sonora. Se começaram no jazz, rapidamente alargaram os horizontes e têm explorado diferentes territórios musicais onde a improvisação se veste de todos os ritmos, melodias e sonoridades. África, Brasil, Índia e até bem conseguidas incursões pela música orquestral ou universos ligados à pop desfilam nas inspiradas composições de Laginha e na voz infinita de Maria João.
Luis Martins