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A tradição já não se joga como antigamente

Os praticantes de jogos tradicionais são cada vez menos. O presidente da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda pede mais apoio ao poder político, em particular ao Ministério da Educação

«Há uma parte cultural que não pode cair no esquecimento e um património imaterial riquíssimo». Quem o diz é Norberto Gonçalves, presidente da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG), um dos pilares do associativismo a nível distrital.

«Os jogos tradicionais já foram mais participados, mas isso tem a ver com questões como a evolução social e a desertificação», refere o responsável a O INTERIOR. Também os espaços que acolhiam estes jogos, como os adros das igrejas e os largos das aldeias, foram pavimentados, o que afetou a prática, acrescenta. «Hoje, joga-se menos do que há dez anos e já nessa altura se jogava menos que 30 ou 40 anos antes», sublinha o dirigente. A menor intervenção do poder político também influencia a dinâmica das iniciativas, pois os jogos tradicionais «não têm tido o mesmo apoio que outras atividades», critica Norberto Gonçalves. Porém, o presidente da AJTG prefere falar do que é conseguido todos os anos, como «um número razoável de atividades» ou a participação em iniciativas nacionais e internacionais.

É que, recentemente, a associação marcou presença no Dia Internacional do Enfermeiro, no Porto, e em junho estará em Ourense (Espanha) no Festival Internacional de Jogos e no Eurofestival de Jogos Tradicionais da Associação Europeia de Jogos e Desportos Tradicionais. «Os jogos continuam a fazer parte do dia-a-dia, como a rabiola no inverno. Já houve mais jogadores mas não desistimos», garante. A AJTG está a preparar uma «grande atividade» para o próximo verão, que deverá incluir a participação das escolas da Guarda. O também professor da EB 2,3 de S. Miguel diz que «há muitos alunos que, no intervalo, já nem brincam», pelo que «o Ministério da Educação tem de perceber que, para serem mais críticos e interventivos, as crianças e jovens precisam mais do que apenas livros e professores».

Museu do Jogo na “gaveta”

O projeto do Museu do Jogo, falado ao longo da última década, está parado devido à falta de apoios. «O museu continua nos horizontes, só que a crise não permite que tenhamos muitos apoios, é preciso ir à procura deles», revela Norberto Gonçalves. Segundo o responsável, a AJTG já tem espólio, só que uma das principais dificuldades é o projeto «não se compadecer com o amadorismo», sublinha, considerando que «os voluntários dão muitas horas a esta casa, mas no museu é preciso mais». O poder autárquico «sempre mostrou abertura, mas é um projeto de largas dezenas de milhares de euros que não pode estar a parar e arrancar», lamenta o presidente da associação. Porém, o Museu do Jogo é uma ambição da coletividade, que procura dinamizar uma oficina de jogos tradicionais para aprender, brincar e reviver «velhos tempos que ainda podem ser novos».

Norberto Gonçalves recorda que a AJTG, criada em agosto de 1979, teve como objetivo «espicaçar o associativismo, apoiando a constituição de várias associações» numa altura em que a informação não circulava com tanta facilidade. A organização baseou-se muitos anos em sócios coletivos, sendo que os sócios individuais só começaram a surgir «na década de 90».

Jogos Tradicionais nas Lameirinhas

A Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG) e o Grupo Desportivo e Recreativo das Lameirinhas (GDRL) organizam, no domingo, um conjunto de jogos tradicionais. De manhã, pelas 10 horas, poderá jogar à malha no Campo do Zambito. Já de tarde, na sede do GDRL, os participantes jogam à raiola, sacos e “luta” de tração com corda.

Sara Quelhas O jogo do cântaro foi uma das atividades em Casal de Cinza, no último sábado

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