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«A situação financeira da Rádio da Covilhã é mais do que debilitante»

Cara a Cara – Sérgio Gaspar Saraiva

P – Porque aceitou este desafio de ser o novo presidente da direção da Rádio Clube da Covilhã?

R – A equipa que foi proposta já tinha trabalhado na Rádio da Covilhã há uns anos. Foi uma equipa que fez andar esta emissora, desenvolveu esta cooperativa e tínhamos confiança que fosse possível fazer da Rádio Clube da Covilhã a instituição que a cidade merece e precisa.

P – Quais são as grandes prioridades para este mandato?

R – Temos a intenção de colocar a Rádio da Covilhã ao serviço da cidade porque até temos uma universidade que tem o curso de Ciências da Comunicação. Há muita gente ligada a este setor e precisávamos de divulgar as freguesias do concelho e as associações que fazem muitas atividades e que muitas vezes não são conhecidas. O que nos motivou foi darmos conhecimento dessas realidades porque achamos que é necessário elas serem conhecidas e serem participadas pela população.

P – Qual é a atual situação financeira da cooperativa?

R – A situação financeira é mais do que debilitante, é menos do que zero. Encontrámos a cooperativa numa situação que não agrada a ninguém e está muito longe do que eu pensava que estivesse. Pensava que as coisas estavam equilibradas mas não tínhamos conhecimentos reais das coisas. Isto, de facto, está um caos autêntico.

P – Que estratégia vai ser adotada para tentar combater essa situação?

R – Sabemos que instituições como a rádio vivem muito à base da publicidade, dos programas que fazem e que a põem em contacto com o público porque só com os ouvintes a sentirem-se um pouco com o coração na rádio é que nos podem auxiliar e é daí é que tem de vir alguma coisa que possa levantar esta instituição que está muito no fundo.

P – De quanto é a dívida que encontraram?

R – A dívida é tão elevada que na primeira semana em que cá estivemos a EDP cortou-nos a luz da sede. Temos estagiários que não receberam a Segurança Social, cujas verbas foram entregues mas não chegaram aos destinatários. Todos os funcionários têm dois e três meses de falta de vencimentos. Anda tudo assim, a navegar ao “Deus dará”. Isto traz-nos preocupados porque temos que saldar essas dívidas e não é fácil. Só uma equipa coesa e forte é que pode fazer face a esta situação. O montante global da dívida andará entre os 10 e 15 mil euros.

P – Vão ser introduzidas alterações na programação?

R – O sector da programação está a trabalhar e já tem propostas para introduzir novos programas num contexto mais cultural. Queremos colocar a rádio ao serviço da população, de associações e de outras instituições como as Juntas de Freguesia. Temos que dar uma nova força a essa realidade porque só assim é que queremos uma rádio na Covilhã. Esta cidade merece uma rádio que divulgue o que o concelho tem de melhor e que se divulgue um trabalho positivo nesse aspeto.

P – Quantos trabalhadores tem atualmente a cooperativa? Esse número vai manter-se?

R – São cinco no total, incluindo uma administrativa, que também está a fazer serviços de jornalismo, e dois estagiários. Poderá haver ajustes e outros auxílios de alunos da UBI.

P – O objetivo é aprofundar essa ligação com o curso de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior?

R – Exatamente porque a rádio também é um auxiliar para os próprios alunos. É um meio de formação onde eles poderão encontrar realidades que não encontram nos livros e isso faz-lhes muita falta, a experiência.

P – No passado, havia uma notória ligação entre a Rádio e a Câmara da Covilhã. Acha que isso foi prejudicial para a imagem da Rádio junto da população?

R – Em termos de opinião pública, as pessoas dizem isso. Nós não sabemos porque não estivemos cá nessa altura, ouvíamos dizer que havia uma ligação grande entre a rádio e os serviços municipais mas na questão, por exemplo, de financiamentos não demos conta ainda desses apoios. Claro que temos um apoio elevado, a sede, que é propriedade da Câmara Municipal e, por isso, não pagamos rendas, embora se possa dizer que está distante do centro da cidade. Queríamos ver se conseguíamos outro local mais no centro para convivermos mais com as pessoas e para a população ter a rádio mais próxima de si. Mas isso lá mais para diante, a prioridade agora é estabilizarmos a parte financeira e a organização interna.

P – Qual é que vai ser a relação da Rádio com a Câmara. Vai haver uma certa dependência ou ser independentes?

R – Não julgue que haja dependência. As rádios também são um instrumento de divulgação de atividades e serviços dos municípios. Muitas vezes, se não fossem as rádios locais muitas das iniciativas e muitas coisas boas e más dos municípios não eram conhecidas. Esperamos que a Câmara também nos apoie nesse aspeto porque estamos abertos à divulgação das suas atividades.

Sérgio Gaspar Saraiva

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