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A semana em seis passos

Deu-me hoje para matutar sobre os acontecimentos da semana passada. Fi-lo em seis passos até porque, mesmo biblicamente, o sétimo dia é para descansar…

Primeiro passo

No dia em que este texto sair a público passou uma semana sobre a greve geral. Na hora em que escrevo ouvem-se notícias da definição de serviços mínimos para o sector dos transportes da ordem dos cinquenta por cento. Compreende-se que, em sectores vitais da sociedade, tenham que salvaguardar-se os superiores interesses das pessoas. No entanto, parece-me que impor uma taxa daquela grandeza é bem mais que garantir serviços mínimos. Não sei mesmo se tal medida não atenta contra o direito dos trabalhadores a mostrar a sua indignação.

Segundo passo

A senhora ministra da Justiça envolveu-se com o bastonário da Ordem dos Advogados e este, com a sua reconhecida pacatez verbal, tratou logo de a apelidar de peixeira tendo, todavia, o cuidado de acrescentar que tal epíteto não pretendia ofender as nobres e trabalhadoras mulheres do peixe. Não contente com a polémica assim gerada, a senhora ministra, por alguma ponderosa razão por certo, abandona a meio uma cerimónia onde, por sinal, estava também o seu parceiro de polémica…

Terceiro passo

O senhor secretário de Estado da Administração Pública vem declarar publicamente que irá haver alterações na grelha salarial da função pública. Dias depois o senhor ministro, naquele tom que adormece até mesmo os que sofrem de insónias, dizia que não. Garantia mesmo ser rotunda mentira que alguma vez o seu secretário tivesse proferido tais afirmações. Alguém andou a manipular informação…

Quarto passo

O caso Face Oculta continua aí para lavar e durar. Com tanta informação, contra informação, intoxicação da opinião pública, corremos o risco de serem os nossos tetranetos a resolver o imbróglio…

Quinto passo

Duarte Lima, a contas com a justiça brasileira, viu agora as autoridades portuguesas decretarem a sua prisão preventiva. Mais: viu também o filho e um sócio de ambos serem investigados sob suspeita de terem cometido uma série de crimes daqueles que se convencionou chamar de colarinho branco. Não corre sob rodas a vida ao ex-deputado…

Sexto passo

Para terminar em apoteose recorramos a um “habitué” das colunas dos jornais e nem sempre pelas melhores razões. Trata-se do régulo da Madeira que, em mais uma mostra de “quero, posso e mando”, decidiu manter os principescos gastos no arraial de final de ano na pérola do Atlântico. Não se trata de questionar a importância daquela época festiva em termos turísticos que a tem mas, num tempo em que os cidadãos deste país apertam mais e mais o cinto, manter os gastos… Acresce que, cereja no topo do bolo, mais uma vez, a empresa escolhida o foi não por concurso público mas por convite. Como se vê a maior das transparências foi o critério seguido…

Aqui chegado reparo que, afinal, nem ao sétimo dia se pode descansar quando o tempo é de crise… Então não é que, para me atrapalhar o descanso e testar a minha ingenuidade, o senhor ministro da Economia, decidiu decretar o fim da crise? Não contente veio logo acrescentar que o que tinha previsto, qual Zandinga de plenos poderes, tinha sido o princípio do fim da crise. Pronto! Assim já estou mais descansado!…

Com tantos passos e mais os ditos Perdidos, no hemiciclo de S. Bento, lá vamos cantando e rindo e fazendo de conta que somos gente abnegada, trabalhadora e crente no futuro… Tudo isto por muito que semanas como esta nos queiram convencer do contrário. Ainda existe este país?…

Por: Norberto Gonçalves

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