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A saúde em Portugal

No nosso país há, pelos menos, três grandes pilares da sociedade em que muito ainda há para melhorar, a saber: a educação, a justiça, a crise financeira e o atendimento na saúde pública. É sobre este último, o atendimento na saúde pública, que hoje escrevo.

O Estado português implementou, após o 25 de Abril, o Sistema Nacional de Saúde para atender todos os utentes que dele necessitassem. O princípio é, na minha opinião, de louvar, contudo, diz-nos a prática, muito há para melhorar, sobretudo ao nível organizacional e de gestão dos recursos materiais e humanos. Por exemplo, tenho constatado que para se obter uma consulta no próprio dia nos Centros de Saúde, os utentes, ditos doentes, começam a aparecer de madrugada, pelas 5 horas, permanecendo no exterior até às 9 da manhã, hora de abertura dos serviços, esperando por uma senha que lhes permita ter acesso ao médico. Os médicos dos Centros de Saúde, refiro-me ao concelho que habito, aparecem perto do meio-dia e nem têm tempo para ver e tratar todas as pessoas da fila multitudinária, que esperam um dia e outro, vão embora e regressam de novo na madrugada seguinte para mais umas horas de espera ao relento, com a esperança de, desta vez, terem senha. Ora, esta organização é propícia ao aparecimento de «esquemas» como tenho observado, há pessoas que vendem as suas senhas, outras que pagam a quem as gere, para poderem entrar. Triste espetáculo!

E nos hospitais? Somos atendidos pelos melhores licenciados em medicina, mas, infelizmente, são poucos para tanto público. Ser atendido num hospital pode demorar de três a cinco horas, para cinco minutos de atenção. Atenção, por vezes, extremamente simpática, como me tem acontecido, mas outras muito classistas.

Os favores e trocas existem entre o pessoal hospitalar. É preciso um troco de simpatias, uma invenção, para sermos atendidos pelo sistema público. Nem falar do privado. Um exame que custa no sistema privado 250 euros, no público paga-se 2,35 euros, o correspondente à taxa moderadora. Com a crise económica que vivemos, quem pode pagar a importância pedida pelo privado?

Há dias, num hospital público, observei mais de 300 utentes à espera de serem chamados, corredores cheios de pessoas, para os poucos médicos que entregam a sua saúde, saber e serenidade aos pacientes espalhados por todos os hospitais do país.

Comentava este assunto com a minha mulher, e ela, que bem conhece Portugal, disse-me que, independentemente das horas de espera, temos a garantia de sermos observados e tratados, caso seja necessário, nos hospitais públicos e nos centros de saúde, sem haver qualquer constrangimento com seguros, como por exemplo acontece nos EUA.

Admiro as senhoras e senhores médicos. Moram o dia inteiro em prédios que são hospitais, mal pintados, sem lugares para descansar. Bem como a simpática atenção de médico a utente.

Há os que entram no sistema privado. Há os que entregam o seu patriotismo à nacionalidade trabalhando em péssimas condições.

Há os que utilizam abusivamente o Sistema Nacional de Saúde e há, ainda, os que se entregam à Nossa Senhora de Fátima… Faltam-nos os que «olhem» para os serviços de saúde em Portugal pensando-o num todo, desburocratizando-o e moralizando-o, isto é, as parcerias com o Ministério de Educação são urgentes, para ensinarmos os mais jovens a utilizar corretamente um bem tão precioso como é o Sistema Nacional de Saúde.

Eu, como etnopsicólogo, faço destas esperas intermináveis, trabalho de observação participante…

Por: Raúl Iturra

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