Embora as estatísticas provem a diminuição da criminalidade em Portugal no último ano, o crime manteve-se estável na minha família. Depois do meu carro em 2013, agora foi a casa da minha irmã a ser assaltada, durante o dia, quando não estava ninguém.
Os principais suspeitos da polícia são, por ordem crescente, o casal McCann, porque se vê na cara de Mary McCann que ela tramou alguma; os emigrantes, porque são estrangeiros; e eu, porque além da família nuclear, sou quem mais tempo passa naquela casa.
A polícia inglesa já descartou o casal McCann, embora um inspector português insista que os assaltantes estiveram na sala a beber chá e a ver a BBC World. Os emigrantes têm o alibi mais óbvio: já foram todos embora para o estrangeiro. Quanto a mim, à hora do roubo estava numa aula a ensinar jovens adultos a fazer exercícios de escrita que envolvem combinar palavras como “bananas” e “driblar” ou “estojo” e “escravatura”, pelo que a polícia questionou, “Hum, muito conveniente. Tem testemunhas credíveis que o possam confirmar?”. “Estavam alguns alunos na sala”, disse eu, “portanto, acho que não.”
Nessa noite, dediquei-me à minha forma pessoal de CSI: “Cultura, Sabedoria, Informação”. Nos livros descobriria a minha solução. Após longas horas de pesquisa, julgo ter encontrado num livro de poesia a resposta que a polícia procura. Num poema de José Tolentino Mendonça, poeta e teólogo que conhece as manhas do Senhor, encontro as palavras de incriminação: “Muitas vezes Deus prefere / entrar em nossa casa / quando não estamos”. Espero que sirva como prova para a investigação. As forças de segurança deviam também ter atenção às Escrituras e ao que está escrito de forma bem clara no Eclesiastes: “Deus fará aquilo que já fez”. Fica o aviso.
Por: Nuno Amaral Jerónimo