Para muitos vivemos tempos ominosos, de refugo; e que, para as massas, o refugo possa passar por protagonista (o ministro, o 1º Ministro, o Presidente da República, qualquer que seja o lugar, o que deixo ao cuidado do leitor identificar) isso já não ilude – melhor: já não escamoteia – o essencial, já não engana ninguém, excepto o fundo carente de lucidez ou aquele para quem a luz é doentia…E o essencial é que, ao não ter aptidão para fundamentar-se a si própria, falo da “esquerda”, note-se, o que resta aos intelectuais da área (já explico por que é que a palavra “intelectual” vai bem com miséria) é buscarem o que ainda podem salvar. De facto, nada, mas ainda se entretêm, lucubram.
Ao proporem a violência como tendo um papel na História (Marx e Engels, para não ir mais atrás), ao terem feito a figura que fizeram durante a República de Veimar (essa “república de intelectuais” foi uma das portas do nazismo), ao dizerem – neste preciso momento – em França (as “Luzes” continuam a ser a matriz dos bem-pensantes da área lá e cá…) que “o Partido Socialista deve desaparecer (só o soube semanas depois de o ter afirmado aqui), tudo isto significa que acabar com tão maligna postura é premente.
A razão é muito simples: a percepção da identidade do Homem – e da História, claro – mudaram. Apegados às tretas que remetiam para a “inabalável confiança na razão”, carentes de religiosidade e tripudiando sobre ela, esse conjunto que se cria – e crê – uma vanguarda é, afinal, na melhor das hipóteses, um acervo de abencerragens. Que, em tão triste situação, a própria Igreja tenha tido – e continue a desempenhar o seu protagonismo – isso é um erro tão monstruoso, digamos, como João Huss queimado na fogueira ou o julgamento de Galileu. Por que não dizê-lo ou manter ilusões, salvaguardado todo o profundo respeito, v. g., por este Papa?
Mais que histórica a identidade do homem é cósmica, ou seja, o Divino, a Infinita Inteligência do Universo, se assim o preferirem, Isso é que é a matriz.
O Sindicalismo oitocentista, galhardamente, lutou pelos interesses de cada um dos seus associados – e venceu. Sucede é que foi cada um dos sindicalizados que, no fundo, venceu. De outro modo: aquilo que cada um persegue – tanto mais vigorosamente quanto maior for a sua energia e/ou elevação interior – é a sua própria realização; e a realização própria é um desiderato, ónus, espiritual.
Em suma: ninguém, excepto o próprio, forja a sua grandeza, o seu porvir – e essa é uma tarefa insubstituível, inalienável. A pessoa – e só a pessoa – é o Centro. Não já como o afirmavam certos renascentistas ou uma certa (acanhada) interpretação de Protágoras («as coisas são para ti como te parecem a ti e, para mim, como me parecem a mim, posto que tu és homem e eu também», Teeteto, Platão). A pessoa, e só a pessoa, é o Centro – sem poder ser de outro modo.
A elevação da sociedade emanará da excelsa dignidade e gregária consciência de cada pessoa e, para isso, é de instante urgência que os náufragos da “esquerda”, essa pequenez, o percebam o mais rapidamente possível. – Ou será que a sua vocação é serem madres Teresas de Calcutá?!…
Obrigatório: os que, na Europa, lutaram contra os verdadeiros crimes do patronato alcandoraram-se a um intangível respeito – para sempre. Mas os tempos mudaram. Está, agora, absolutamente, claro que a solução histórica deixou, repito, para trás tais posturas, portanto, confinadas a antanho.
Quem é quem? Como progredir? Eu e os outros? Dizer, hoje, que os bens são escassos e limitados é próprio de estulto. De facto, a Abundância é ilimitada. Sucede é que, para lá chegar, à partida, o paradigma está nos antípodas do que a “Esquerda” propõe. Assim, dar-lhe o voto em Setembro é caminhar para pior do que estávamos em 2005.
A Esquerda é, hoje, a perfeita ruína.
Córdova, 30-VII-09
Por: J. A. Alves Ambrósio