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A revolução dos travos

Extremo Acidental

Os militares que organizaram e concluíram o golpe militar de Abril de 1974 andam chateados com a presidente da Assembleia da República por causa de umas declarações que a segunda figura do Estado prestou durante o toque da campainha. Disse Assunção Esteves que se os senhores da tropa não quiserem ir ao parlamento, “o problema é deles”. Não vejo causa para tanta sensibilidade e indignação. Podia ter sido pior. Podia ter respondido: “Ai fizeram o Movimento das Forças Armadas? Mas armadas em quê? Estiveram armadas em parvas e agora andam armadas em esquisitas.” O mesmo se pode dizer de quem ainda defende a revolução armada. Normalmente é gente armada em boa. Mas a revolução portuguesa foi mais de betão armado que de armas na mão.

Portugal parece um país revolucionário – só no século passado foram três golpes de estado bem sucedidos – mas não é. A revolução passa pelas cabeças de alguns mas não passa disso. A teoria de Trotsky da revolução permanente está desactualizada, hoje só algumas velhotas resistem ainda ao uso da permanente. Uma revolução cultural como a de Mao está também condenada ao fracasso, porque os portugueses são o povo mais sedentário da Europa e não é convidando-os para uma grande marcha que os revolucionários se safam. Uma revolução como a dos khmeres vermelhos podia ter boas bases para agradar às massas, nomeadamente a reeducação de professores e intelectuais e a sua reconversão em camponeses, operários e jogadores de futebol. Mas creio que a mudança da cidade capital tentada no Cambodja, apesar de poder ter muitos adeptos nos arredores do Estádio do Dragão, nunca seria aceite pela população do interior, que vive mortinha para se mudar para Lisboa.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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