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A «revolução cultural» do TMG

Avanço do Museu de Arte Contemporânea seria uma “boa prenda” nos cinco anos do equipamento, que se comemoram domingo

O Teatro Municipal da Guarda (TMG) assinala este domingo cinco anos de existência e o balanço é «extremamente positivo». Mais de 208 mil espectadores e 1.600 actividades depois, o director do equipamento cultural, que tem trazido nomes notáveis na área da música, dança ou teatro à cidade, continua a reclamar maior apoio por parte do Ministério da Cultura. Em altura de festa, Américo Rodrigues gostaria que a ambição da construção de um Museu de Arte Contemporânea passasse da teoria à prática.

Olhando para trás, o responsável defende que o TMG foi «uma autêntica revolução para a Guarda em termos de oferta cultural», uma vez que «passou a ter uma programação contínua, sistemática, com objectivos muito definidos, dirigida a diversos públicos, que pretendia e pretende ser de qualidade e isso era uma novidade». Recordando que, na Guarda, «não houve durante muitos anos nenhuma política cultural», o director do TMG salienta que, em 2005, o Teatro Municipal significava «um passo de gigante» e «aparentemente seria uma obra megalómana, uma espécie de elefante indomável». Américo Rodrigues enaltece que a «diferença» entre o equipamento que dirige e outras estruturas semelhantes espalhadas pelo país é que «nós pretendemos ter mesmo um programa e não uma agenda de acontecimentos pontuais». «Não pretendemos ter uma manta de retalhos, mas uma programação que visa alcançar determinados objectivos e, nesse sentido, procuramos chegar a todos os públicos», reforça, salientando que «fazer uma programação exige muita pesquisa e muitos contactos».

De resto, considera que, actualmente, não é difícil ter acesso à oferta, mas sim «ajustar as opções ao dinheiro de que dispomos», sendo que «muitas vezes, por questões de carácter económico, temos que tomar outro tipo de opções porque temos que pesar sempre as questões de carácter económico, não deixando de cumprir os objectivos da exigência da qualidade». Assim, «é preferível não programar do que programar qualquer coisa de má qualidade ou que nos envergonhe», sintetiza. De modo a conseguir aumentar as verbas disponíveis para poder ter mais e melhores espectáculos, o TMG continua a reclamar apoios por parte do Ministério da Cultura, uma vez que se trata de «uma questão de inteira justiça». É que «o TMG cumpre um serviço público, consagrado na Constituição, as pessoas têm direito ao acesso à cultura e o cidadão da Guarda não é um cidadão de segunda», sublinha Américo Rodrigues, que lamenta que por causa de «uma lei que já foi considerada inadequada pelos próprios ministros anteriores não podemos concorrer ao apoio do Ministério por sermos uma empresa municipal».

Saída da GNR dará «entrada mais digna»

Para contornar esta contrariedade, os responsáveis pelo Teatro têm tentado sensibilizar a ministra para a revogação dessa lei e procurado outros apoios, como o programa transfronteiriço INTERREG e o QREN. Quanto aos números registados nos primeiros cinco anos de funcionamento, o director mostra-se satisfeito, pois «mais de 200 mil espectadores em cinco anos só pode originar um balanço positivo», considera, adiantando que mantém-se a vontade de «lutar para que cheguemos a mais pessoas e que se ultrapasse em muito esse número». Outra pretensão é a formulação de um estudo sociológico sobre o que esses números significam, nomeadamente a origem, idade e apreciação dos espectáculos. Entre tanto espectáculo realizado, o director do TMG enaltece variadíssimos, a começar pelo concerto de abertura com José Mário Branco, que regressa agora cinco anos depois. Em oposição, entre os momentos menos bons aponta as duas vezes em que o café-concerto surgiu com vidros partidos.

Perspectivando o futuro, Américo Rodrigues diz que «a melhor prenda era tirar, como está prometido, a GNR deste espaço contíguo para fazer uma grande praça», o que dará uma entrada «mais digna». Outro projecto é um Museu de Arte Contemporânea na Guarda, que pudesse surgir «a partir da obra de Maria Lino, que tem, não só um acervo enorme de qualidade, como também é coleccionadora», tendo vivido 30 anos em Hamburgo e constituído uma colecção «muito importante». A ideia já foi apresentada ao vereador da Cultura na Câmara da Guarda e ao delegado regional do Ministério da Cultura que «informalmente» a acolheu com agrado.

José Mário Branco e Zeca Medeiros nas comemorações

O programa das comemorações do quinto aniversário do TMG engloba dois concertos, um de José Mário Branco, que há cinco anos abriu a programação do TMG no domingo, e outro de Zeca Medeiros, no sábado. As festividades incorporam ainda o lançamento, no dia 25, do livro “Caminhos. Sinais. Sentidos” que reúne depoimentos, informações e fotos sobre os primeiros cinco anos do TMG e uma exposição do Serviço Educativo, que vai estar patente ao público entre 4 e 14 de Maio. José Mário Branco cresceu no Porto e frequentou o curso de História, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que não concluiu. Expoente da música de intervenção portuguesa, iniciou a sua carreira durante o Estado Novo, tendo sido perseguido e exilado em França, entre 1963 e 1974. Com ele trabalharam José Afonso, Sérgio Godinho, Luís Represas, Fausto e Camané, entre outros, com os quais participou em concertos ou em álbuns editados como cantautor e/ou como responsável pelos arranjos musicais.

Ricardo Cordeiro Américo Rodrigues no grande auditório do espaço que recebeu mais de 208 mil espectadores em cinco anos

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