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«A realidade de que nos queremos aproximar tem muitos rostos»

O património de afetos da Sé da Guarda e da Praça Velha é o foco do trabalho de José Quelhas Gaspar

Reforçar a identidade cultural da comunidade guardense com a sua Sé Catedral é um dos objetivos do estudo que José Quelhas Gaspar inicia em dezembro. Ex-libris e “ponto de encontro” entre as gentes e a cidade, o monumento é também património de memórias e afetos: algo que o historiador quer testemunhar e proteger, em colaboração com a população.

«Com este projeto em torno da Sé e da Praça Velha, visamos a reunião de um corpus documental ligado a momentos especiais e vivências familiares», disse o coordenador do estudo a O INTERIOR. A representação desta «identidade coletiva» é ainda uma forma de tentar salvaguardar «um património de afetos que merece conservar-se como testemunho histórico significativo», evidencia Quelhas Gaspar, doutorando em História na especialidade de Estudos Avançados do Património. «Todos guardamos documentos referentes a momentos especiais e são eles que hão-de dar corpo ao nosso projeto», salienta. Os guardenses podem ceder fotografias, mas também outros documentos que digam respeito ao período de 1900 e 31 de dezembro de 2014, data em que termina a recolha documental.

Segue-se depois a catalogação, descrição e reconhecimento do material, em que a meta será desvendar a «capacidade de diálogo entre grupos humanos de diferentes tempos, assim como a divulgação dessa capacidade», afirma o coordenador, que acredita que esta «é a missão do historiador no exercício do seu ofício». O trabalho vai dar origem a uma exposição, prevista para junho de 2015, sendo que a data depende da quantidade de material recolhido, em busca da realidade que serve de base ao projeto: «A realidade de que nos queremos aproximar tem muitos caminhos, muitos rostos, muitas tramas e muitos sentidos», descreve o autor.

As histórias coletivas e individuais que “habitam” as paredes da Sé e os recantos da Praça Luís de Camões, que servem de “montra” da cidade, são essenciais para «um novo olhar» que possibilite «tecer uma nova urdidura do vasto fazer histórico que naquele espaço patrimonial se desenrolou durante o século XX», assinala Quelhas Gaspar. E é também esse o papel do historiador: «Estamos conscientes de que é nossa responsabilidade identificar, para devolução à sociedade, uma herança de que nós somos testamentários», considera. Assumindo essa responsabilidade, o coordenador do estudo não tem dúvidas de que este olhar sobre o passado pode oferecer algo ao futuro: «São elementos que unem os guardenses, pelo que os escolhemos para indagar o passado, levando às próximas gerações as experiências e expetativas que nos fizeram», refere.

Guardenses têm um papel fundamental

Esta base de dados, de cariz pessoal e familiar, só pode ser conseguida com a ajuda dos guardenses, sendo que «o trabalho final poderá apoiar uma publicação de memórias e afetos», adianta o historiador. Os documentos podem ser disponibilizados em formato digital ou, caso sejam apresentados em formato físico, são digitalizados e devolvidos de imediato. Os originais devem ser acompanhados por uma pequena legenda com referência à data, acontecimento, autor (se possível), conteúdo, nome e contato do cedente. Este deverá autorizar a sua divulgação em página eletrónica – a ser criada –, bem como a sua utilização na exposição e noutros meios de divulgação, para uso exclusivo do contexto cultural deste projeto. Pode ser usado o contato de email sedaguarda@sapo.pt ou telemóvel 967369408.

Sé Catedral

Construída entre os séculos XIV e XV, a Sé Catedral reflete a evolução das correntes arquitetónicas que marcaram esse período, incorporando os estilos românico, manuelino e renascentista. No seu interior encontra-se o retábulo de João de Ruão, fiel representante da vida Cristã, e a Capela dos Pinas, imbuída de elementos Renascentistas por excelência, de que são exemplo os motivos florais e animais.

O autor quer recolher “testemunhos” documentais da população

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