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À procura do ZEBRO (I)

Nos Cantos do Património

Até ao final do longo período da Idade Média as povoações da Beira Interior estariam cercadas de densos matagais e escuras florestas de carvalhos. Essas florestas cerradas e tenebrosas despertavam nos homens que viviam nas suas margens medos paralisantes e fervores religiosos. Povoados de seres imaginados como fadas, duendes e bruxas, ou bem reais e perigosos como os animais selvagens, atravessar um matagal ou uma floresta sombria era uma façanha considerável. A qualquer momento o viajante podia deparar-se com animais selvagens como o urso, o lobo, o javali ou o ZEBRO.

A documentação medieval é profícua nas referências e esses animais perigosos, caçados frequentemente pela população concelhia. Um dos animais frequentemente referido nos documentos medievais é o ZEBRO. Pelo que se pode presumir da documentação era um animal caçado sobre o qual se deviam pagar prestações aos senhores das terras ou ao rei.

Os estudiosos da Idade Média nem sempre têm estado de acordo sobre a espécie animal mencionada como ZEBRO, zebra ou ainda zevro ou zevra nos documentos medievais. Para uns, seria apenas a designação deturpada do cervo. Para outros, designava o asno ou a mula ou ainda o boi. Mas o temo ZEBRO aparece em diversos textos a seguir à indicação do asno, do mulo e do cervo. Por exemplo, o foral de Pinhel atribuído por D. Sancho I, em 1209, escreveu-se o seguinte: “De mouro que venderem no mercado pagarão um soldo. De mouro que se alforrar, a dízima. Do mouro que labora com o seu senhor, a dízima. De couro de vaca e de ZEBRA pagarão dois dinheiros. De couro de cervo e de gamo pagarão três mealhas. De carga de cera pagarão cinco soldos. De carga de azeite pagarão cinco soldos”.

O termo ZEBRO não pode, por isso, atribuir-se a nenhum dos animais mais conhecidos como o asno, a mula ou o cervo. Trata-se de um outro animal do qual se aproveitava o couro e a carne, sendo o primeiro tributado.

Também o foral de Coimbra de 1179 refere claramente o couro de ZEBRO, bem como dos outros animais com os quais se podiam confundir. Escreveu-se no foral: “Paguem portagem… De cavalo ou mula ou mulo que venderem ou comparem os homens de fora, de dez morabitinos para cima paguem um morabitino(…). Da égua vendida ou comprada dêem dois soldos; e de boi dois soldos e de vaca um soldo e de asno ou asna, um soldo. De mouro ou moura, meio morabitino. De porco ou carneiro dois dinheiros. De bode ou cabra, um dinheiro. De carga de azeite ou de couros de boi, zebro ou cervo dêem o seu foro”.

A verdade é que o animal abundantemente referido na Idade Média já não existe. Subsistiu a sua memória na toponímia e em algumas expressões populares utilizadas em Trás-os-Montes até meados do século XX. Em Mogadouro, para alcunhar alguém que demonstrava um comportamento colérico, endiabrado e agressivo ouviam-se expressões como “Hoje aquele está ZEVRO” ou “que ZEVRO é o rapaz”.

No próximo texto desta coluna continuaremos “à procura do zebro”, deste animal que se reproduzia nos matagais da Beira na Idade Média.

Por: Manuel Sabino Perestrelo *

*perestrelo10@mail.pt

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