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À procura de emprego

Editorial

1. Lá diz o povo que «quem não tem cão, caça com gato». O presidente da Câmara da Guarda prometeu revitalizar a economia da Guarda e atrair empresas, mas, em tempos de crise, e mesmo com uma ligeira retoma, investidores não abundam e atraí-los para o interior é tarefa hercúlea e de resultados duvidosos.

Assim, e muito para lá da relevância do aforismo, Álvaro Amaro assegurou para a Guarda a instalação de um novo “contact center” que deverá criar 40 postos de trabalho em breve e que, numa fase posterior, poderá mesmo contratar 180 pessoas. Não é propriamente um grande investimento ou sequer uma empresa de mão-de-obra especializada e de produção de valor acrescentado relevante, mas promete contratar quase duas centenas de pessoas – ainda que seja trabalho precário e de baixo rendimento, não deixa de ser de grande interesse numa região como a nossa.

O novo “call center” da Randstad irá funcionar no Parque Municipal, numas instalações onde o anterior executivo, liderado por Joaquim Valente, investiu meio milhão de euros para “arrendar” à Adecco, em 2009, com uma expetativa de criação de 250 postos de trabalho, mas que quatro anos depois fechava sem nunca ter tido mais 25 trabalhadores. Encerrado desde outubro de 2013, o pavilhão no centro do velho Parque Municipal, volta assim a ser palco de emprego intenso, jovem e de curto prazo de um serviço de contatos. Afinal, o investimento errado e, então, lesivo do interesse público, vai servir para alguma coisa – mas se em 2009 a Câmara da Guarda gastou meio milhão de euros num investimento falhado, agora vai ter de gastar 180 mil euros para adaptar as mesmas instalações. Ou seja, o Pavilhão Municipal dos “call centers” em seis anos irá custar ao erário público quase 630 mil euros… A ver se desta vez os empregos se mantêm.

2. Politizado, mas sem casta, nem chefes partidários, Rui Moreira permite-se a dizer o que pensa, sem o servilismo dos políticos provincianos que patrocinam sempre a defesa dos chefes da seita. O presidente da Câmara do Porto acusou o atual governo e os anteriores de canalizarem todo o investimento disponível para Lisboa – que canibaliza o país há séculos, secando tudo e sugando todos os recursos disponíveis. Rui Moreira “convidou” os cidadãos «a questionar os partidos sobre se, algum dia, vão ter de desligar a luz e ir viver para a única região que recebe investimento», Lisboa. Infelizmente a maioria das pessoas não dá ouvidos, mas seria bom refletirem, nas próximas eleições, sobre o papel dos partidos na nossa vida e o quanto funcionam como feudos de conveniência, compadrio, esquemas e oportunismos. E era bom que emergissem mais vozes pelo país em defesa do interesse das respetivas comunidades e contra o centralismo e a casta partidária. É tempo de encontrar novos protagonistas, novos intérpretes da vontade popular, novos defensores das vilas e cidades de um Portugal que teima em não morrer, de um Portugal que quer reerguer-se com denodo e mérito muito para cá da linha imaginária que separa o litoral do interior, de um Portugal que não é paisagem nem aceita que o investimento público continue a ser feito essencialmente em Lisboa. É tempo de dar vida ao interior… Talvez estejamos a viver as últimas oportunidades antes deste vasto território se transformar numa vasta reserva natural e os seus habitantes nuns exóticos e velhos personagens a viver isolados na reserva.

Luis Baptista-Martins

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