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A primeira vez que escrevo desde a última que escrevi

Extremo Acidental

Após um ano de ausência, o autor destas linhas a elas regressa metaforicamente enriquecido. O cronista retoma os serviços semanais da escrita com mais um título académico, mais cinco anos de contrato e mais quinze quilos de peso.

O ano sabático da croniqueta semanal permitiu ao autor finalizar uma empreitada teórica iniciada no fim do século passado. No fundo, é um trabalho académico que acaba por ser parecido com a monarquia portuguesa. Começou com muita gana, atravessou vários séculos e o país não ficou melhor só por ter acabado.

É verdade que a Ciência faz avançar o mundo, mas é o cozido à portuguesa que faz um homem sair de casa. À primeira vista, o leitor pode pensar que pouco ou nada há em comum entre Georg Simmel e alheiras de caça, e na realidade o leitor tem razão. No entanto, este vosso colunista é uma síntese de ambos porque apresenta o intelecto de um formista e o corpo de um enchido. (Ana Malhoa é exactamente o contrário – corpo de formista e intelecto de enchido).

Para a fundamentação epistemológica de um trabalho científico é importante distinguir a teoria da prática e ambas de uma canja de galinha. Por exemplo, Weber era um teórico porque procurava, a partir da observação da sociedade, estabelecer tipos-ideais. Pelo contrário, as mulheres práticas sabem, também a partir da observação da sociedade, que não há tipos ideais. Na melhor das hipóteses, encontram um tipo porreiro que se queria estabelecer.

Depois do árduo esforço aplicado pelo autor na conclusão do seu trabalho, os hábitos adquiridos ao longo do tempo não se perderão tão facilmente. Não se fala da capacidade de trabalho de leitura, pesquisa e escrita, que essas práticas foram sumariamente trocadas no dia seguinte por um leitão da Bairrada. Refere-se à utilização do jargão académico de auto-referência, que varia entre falar de si próprio com a impessoalidade da terceira pessoa do singular ou com a majestade da primeira pessoa do plural. Aqui, obviamente, preferem-se os jardelismos.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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