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A política do 1X2

O clamor nacional que emergiu a propósito do Orçamento evidencia três realidades. A primeira é que o PS colocou no país na pior situação dos últimos 30 ou 40 anos. A segunda é que o PSD foi colocado numa verdadeira encruzilhada. A terceira é que, na hora da verdade, o CDS, o PCP e o BE contam para muito pouco.

O PS é lembrado por ter gasto o que Portugal tinha e não tinha. Nos últimos anos, a nossa divida atingiu números quase insuportáveis, o desemprego bateu o recorde, os impostos subiram como nunca, a economia regrediu, a educação piorou, os apoios sociais estão em risco, a justiça bateu no fundo e a saúde para lá caminha.

(…) E assim surgiu este Orçamento recessivo e penalizador para as famílias, para as empresas e para a nossa economia.

O normal seria que os actores políticos e o eleitorado, aproveitassem o momento para dizer, sem rodeios e outras desculpas ou distracções, que o PS e o Primeiro Ministro são os culpados pela desgraça que se abateu sobre o país (…).

Mas não. Num passe de magia, próprio do ilusionismo socratiano, o país passou apenas a discutir a posição do PSD.

Os papéis inverteram-se (…). É aqui que começa o drama do maior partido da oposição.

Perante um orçamento tão assustador, o PSD tem uma de três hipóteses, duas delas já definitivamente afastadas no momento em que este artigo estiver a ser lido.

A primeira é votar contra. Trata-se de um voto coerente com a descredibilização total deste Governo e com a convicção de que a cura que com o orçamento se quer fazer só vai agravar a doença. É, todavia, um voto ‘kamikaze’, daí que não pareça poder vingar. Isto porque se interiorizou e generalizou a ideia de que se Orçamento não é aprovado, o país ou dá mais um passo de gigante para o precipício ou dá meio passo de gigante para a insolvência. Isto é terrível.

A partir do coro de opiniões nesse sentido, toda a carga de salvação nacional recai, pois, sobre o PSD e todo o definhamento que sobrevier a um voto contra lhe será inapelavelmente imputado. (…).

O segundo cenário é abster-se, viabilizando o Orçamento sem quaisquer condições. Trata-se de um cenário já descartado pelo líder do PSD. Podia ter-se dito, com toda a pertinência, que este é um Orçamento do PS e do Governo, que é a estes que compete governar e que, mesmo sendo um péssimo Orçamento, é, nas actuais condições, um mal necessário e um mal menor. Parece-me que seria a posição que o PS menos queria, pois sem qualquer estratégia e a navegar à vista, não saberá o que a seguir há-de fazer com o país, a não ser que mais tarde ou mais cedo terá de dar outra cambalhota e anunciar novas medidas de austeridade. Se optasse por este caminho – e não optou –, o PSD deixaria passar o orçamento de “olhos fechados”, mas não teria nenhuma responsabilidade directa quanto às suas sempre nefastas consequências.

O terceiro cenário é abster-se, impondo condições para o PS e o Governo acolherem, como de facto impôs. Esta opção tem a vantagem de mostrar um PSD impositivo e actuante, um PSD que não passa cheques em branco e que só viabiliza não o que o PS quer, mas o que entende que é melhor para o país. (…) Tem, a meu ver, a desvantagem de amarrar ainda mais o PSD a um Orçamento que acaba por branquear as asneiras da governação socialista e, pior que isso, que o pode tornar cúmplice desse Orçamento, fragilizando o seu futuro capital de queixa. Pior que isso, ninguém garante que o Orçamento ‘refeito’ com as alterações pretendidas pelo PSD garanta a estabilidade dos mercados, o alivio da crise económica e a desnecessidade de ajuda externa…

Aqui chegados, o que se pode dizer é que não há uma solução nem perfeita nem boa. Dos três caminhos, venha o ‘Diabo e escolha’.

O que parece é que o PSD não pode ser o culpado pelo descalabro da Nação com o chumbo do Orçamento.

E aqui confrontamo-nos com a terceira realidade.

É inquietante a forma como neste processo a esquerda e a direita portuguesas “lavaram as mãos como Pilatos”.

Pelos vistos, o interesse nacional, o sentido de Estado e o patriotismo só se impõem ao PSD. (…)

E os outros? É bom lembrar que o PCP e o BE juntos, “coligando-se” com o PS no mesmo sentido de voto, evitariam o chumbo. E é bom não esquecer que o CDS, votando favoravelmente o Orçamento, também o aprova.

Então porque não exigir deles o mesmo que se exige ao PSD: responsabilidade.

A resposta só pode ser uma. Na hora das decisões, quando o país precisa, quando é necessário evitar o ‘apocalipse nacional’, os portugueses sabem com quem devem e podem contar.

É por isto que o PSD é um partido de poder. Mas para o exercer, não deve precipitar-se. O momento chegará, porque Portugal o reclamará.

Carlos Peixoto, deputado do PSD eleito pelo circulo da Guarda

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