A imagem de Paulo Portas mastigando tranquilamente uma pastilha elástica nas comemorações do 25 de Abril, é a imagem mais esclarecedora e emblemática do governo que vamos tendo.
As ruminações do Sr. Ministro, significam fundamentalmente duas coisas:
– Que o 25 de abril está, para este governo, morto e esquecido. Até já deixou de ser revolução, para se transformar apenas numa evolução. Uma evolução na continuidade, acreditamos, que da direita salazarenta se poliu nesta direita que nos vai desgovernando.
– Que vivemos uma governação da pastilha elástica. Os seus protagonistas dão-nos a mastigar as políticas anunciadas e as suas explicações que, por breves instantes, enquanto o dulce sabor não se esvai, proporcionam a sensação de algum paladar às nossas desalmadas pupilas, mas que instantes depois nos trazem de volta o gosto amargo das realidades nacionais.
Enfastiadamente, naquela data, revolvendo a pastilha, o Sr. Ministro mascava o povo. Esse povo que, em tempos idos de oposição, por fatalidade da democracia, tinha para ele o agradável sabor do voto. Mas que depois, esgotado a açúcar eleitoral, esqueceu e deitou fora.
Em tempos de oposição, este senhor revolvia-se com o povo. Era comovente vê-lo na feira daqui e na do lado, imbuído das angustias e pesares das multidões, a quem alegremente prometia um país de facilidades após a sua chegada à confortável cadeira do poder. O povo religiosamente aplaudia e carinhosamente tratava-o por Paulinho, o das feiras.
Foi o período em que o açúcar da pastilha ainda tinha sabor.
Mais tarde, quando mascar se tornou, esgotado o sabor, num mero exercício bucal que já adormecia os maxilares ministeriais, Portas abriu a boca e cuspiu o povo.
Mas sosseguemos. Virá o dia em que novamente, soando as trombetas eleitorais, ele regressará.
Renegará a pose de estadista, abandonará os fatinhos Armani e juntar-se-á de novo aos injustiçados.
O desemprego, a fome, a precaridade, a imigração ilegal, a insegurança, a saúde, a educação voltarão a incendiar o seu pobre coração.
Deambulando por entre mercados e lotas, repudiando as profecias da desgraça (e os seus colegas de governo, se necessário) fará o milagre da multiplicação, da abundância junto daqueles que hoje ignora.
Vestirá a pele do pescador, do agricultor, do pensionista, do jovem desempregado, do triste, do aleijado.
Fazendo de conta, gramará, por necessidade das circunstâncias, uma vez mais a pastilha, augurando colher votos à custa do mesmo povinho.
Não tardará. Ou não tivessemos eleições à porta.
E desta feita, talvez se engasgue…
Por: Rita Cunha Mendes