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A Pneumologia no Hospital Sousa Martins

Passado, Presente, Futuro

A Tuberculose é uma doença que acompanha a Humanidade desde sempre, existindo vestígios de lesões de tuberculose óssea datados do período Neolítico e referências à doença em escritos Sumérios, Hindus, Gregos, Romanos e Chineses. Esta foi também motivo de estudo de figuras relevantes da História da Medicina como Hipócrates, Avicena, e Galeno.

Em 1856 o Alemão Hermann Brehmer, procurando combater o flagelo que era a tuberculose, defende a abertura de Hospitais vocacionados para o seu tratamento – Os Sanatórios. Este facto revelar-se-ia um dos mais importantes marcos na história da doença.

Entra assim em funcionamento o primeiro Sanatório, o Sanatório de Gorbersdorf na Silésia, ao qual se seguem o de Ruppertshain na Alemanha e o de Davos na Suiça.

O sucesso destes deve-se principalmente à diminuição das fontes de contágio e a medidas terapêuticas de alguma eficácia tais como a superalimentação, o repouso físico e psíquico, as condições climatéricas consideradas adequadas – ar fresco, despoluído e rarefeito (Sanatórios de altitude), e medidas cirúrgicas nomeadamente a colapsoterapia e a toracoplastia.

Em Portugal, pelo ano de 1883, o Professor José Tomás de Sousa Martins, médico ilustre e figura de relevo no combate à Tuberculose, entusiasmado com a doutrina de Brehmer em relação aos Sanatórios empreende uma expedição à Serra da Estrela, fazendo-se acompanhar de figuras prestigiadas da Medicina e da Politica. Através da publicidade desta expedição, consegue sensibilizar o poder politico para a construção de um Sanatório na Guarda. Chamar-se-ia inicialmente Hospital Príncipe da Beira e mais tarde Sanatório de Sousa Martins.

Em 1891 iniciou-se a sua construção e a 18 de Maio de 1907 é inaugurado pelo Rei D. Carlos e sua esposa, a Rainha D. Amélia de Orleãs, vulto de grande importância na luta anti-tuberculose em Portugal. Durante a sua existência o Sanatório da Guarda marcou a história da cidade e honrou a Pneumologia Portuguesa, tendo para isso contribuído de forma decisiva a figura dos seus sucessivos Directores: Lopo de Carvalho; Amândio Paul; Ladislau Patrício e Martins Queiroz.

Já na década de 70, com o advento da terapêutica anti-bacilar combinada e o tratamento ambulatório assiste-se à progressiva extinção dos Sanatórios. Surge assim o Serviço de Pneumologia, herdando o prestigiado trabalho do Sanatório da Guarda e dando continuidade não só à luta contra a tuberculose mas evoluindo também na diferenciação e qualidade da abordagem das patologias respiratórias.

Criam-se assim novas áreas de Especialização Pneumológica como a Cinesiterapia, a Fisiopatologia, a Broncologia, a Oncologia e recentemente o Laboratório do Estudo do Sono, esperando-se num futuro próximo a criação de uma Unidade de ventilação não invasiva.

Num momento em que se equaciona a constituição de um Centro Hospitalar para a Beira Interior, é essencial para os Hospitais que o vão integrar encontrar áreas preferenciais de especialização e de excelência de forma a corresponder às necessidades assistenciais e de ensino e garantirem o seu futuro. A criação de um departamento médico-cirúrgico de patologia cardio-respiratória cumpre esses requisitos, aliando a tradição ao conhecimento, contribuirá assim para o desenvolvimento e reconhecimento do Hospital e da Cidade.

Luís Manuel Ferreira *

*Médico pneumologista e director clínico do Hospital da Guarda

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