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A Páscoa dos judeus na Beira Interior

A “Pessach” comemora-se na comunidade de Belmonte, em associações ou ainda no aconchego dos lares mais isolados e dispersos

Ritos ancestrais, antigas preces e orações e ainda gestos simples marcam a semana de 8 a 16 de Abril. É a “Pessach”, a Páscoa Judaica, que se comemora na comunidade de Belmonte, a mais significativa, em associações ou ainda no aconchego dos lares mais isolados e dispersos.

É por excelência uma festa familiar e a de maior significado na vida hebraica, por representar a libertação do povo de Israel da servidão do Egipto. Começa na noite de 14 de Nissan e dura oito dias. “Pessach” significa «passar por cima, saltar», a «passagem». Assim se denomina porque, sob orientação divina, os judeus sacrificaram um carneiro e com o seu sangue pintaram os umbrais das portas. Esta é a história da Mezuzah. E do Anjo que matou os primogénitos dos egípcios e “saltou”, isto é, “passou por cima” das casas judias, ungidas nos umbrais com sangue de cordeiro, poupando os seus filhos mais velhos.

É costume os primogénitos judeus jejuarem neste dia, véspera de “Pessach”, recordando o perigo a que estiveram expostos os primogénitos judeus no Egipto. Nestes oito dias é proibido comer pão e outras comidas levedadas, ou seja, nenhum “hametz”. Porque um povo inteiro, conduzido pela vontade de Deus encarnada em Moisés, saiu tão apressadamente do Egipto que a massa preparada para o fabrico do pão não teve tempo de fermentar.

O conceito de “hametz” é simbólico. Representa os defeitos das pessoas, que devem fazer um exame de consciência, dos seus actos e comportamento, para se libertarem das más qualidades. Nesta semana come-se apenas o “matzah”, pão ázimo, panquecas ou pudins feitos de ingrediente não levedados. Nas primeiras noites celebra-se o “seder” (refeição), enquanto se contam histórias da festa (“hagadah”). Bebe-se vinho e come-se “matzah” (pão sem fermento) e “harosset” (ervas amargas), que simboliza a escravidão no Egipto e depois a libertação. No Seder, a mesa posta, a ceia e o relato obedecem a uma ordem tradicionalmente sagrada.

“Pessach” mostra a eternidade do povo judeu enquanto que outros desapareceram. Ficaram na lembrança, que hoje é meramente arqueológica. O primeiro dia representa a saída do Egipto e o sétimo a passagem pelo mar vermelho, onde os judeus atravessaram em terra firme e seca e cantaram a “Shirah”. Os dias intermediários são chamados de “Chol Hamoed”. Na diáspora, acrescentou-se um segundo dia festivo e ainda um oitavo, instituídos pelos judeus sefarditas de Portugal e Espanha.

José Domingos

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