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«A palavra que mais tenho ouvido é mudança»

Ana Manso, candidata do PSD à Câmara da Guarda

P – Até onde vai o seu amor à Guarda?

R – Não tem limites. Mas, pelos vistos, amar incomoda muita gente e o slogan da nossa campanha “Amor à Guarda” incomoda muito mais porque é um sentimento verdadeiro de entrega e disponibilidade total que nos liga à nossa terra.

P – A Guarda também a inspira?

R – O que me inspira é a vida, os princípios e os valores em que acredito, tal como a fé. A vida na Guarda e o seu futuro é que nos inspiram para termos um concelho mais integrado, rico, solidário e competitivo. Isso obriga-nos a trabalhar, a reflectir e a ter ideias e projectos.

P – O que destaca de negativo no último mandato da autarquia?

R – Em primeiro lugar, a atitude de arrogância e prepotência da maioria cuja falta de cultura democrática para com a oposição nos obrigou, tantas e tantas vezes, em reuniões do executivo a sentirmo-nos mal perante essa lógica do “quero, posso e mando”, que mais faz lembrar uma ditadura de 31 anos. Depois o facto das nossas ideias e sugestões serem normalmente postas na gaveta ou adulteradas. Há “n” exemplos, desde a passagem superior da Escola de S. Miguel, que ainda hoje está por fazer, à recuperação dos fontanários ou às sugestões para o Polis e a PLIE, entre outras. Há uma certa angústia por o executivo socialista partir de uma atitude permanentemente autista e penalizadora para a oposição. Tentou sempre denegrir, esmagar e obstruir todas as nossas iniciativas, fazendo passar a ideia de que era o contrário, quando, quem está de boa fé, sabe perfeitamente que a maioria só fazia aquilo que queria fazer. Portanto, não pode imputar, como sempre fez, que o que é bom é o executivo socialista que faz e atirar as culpas pelo que não fez para cima da oposição. Isso é uma injustiça que, quando se fizer história, os guardenses vão reconhecer. Estes quatro anos de oposição foram muito difíceis, tivemos que comer o pão que o diabo amassou.

P – E de positivo?

R – (longa pausa)… Hoje considero que estamos mais bem preparados para enfrentar a gestão da Câmara do que há quatro anos.

P – Em termos de obra feita pela Câmara não destaca nada de positivo?

R – O Centro de Estudos Ibéricos é, de facto, uma obra que enobrece a cidade e os guardenses.

P – O que espera da Plataforma Logística?

R – A Câmara perdeu muito tempo, pois devia ter deixado desde o início que a PLIE fosse gerida pela iniciativa empresarial. A autarquia deveria ter-se limitado ao seu papel de mobilizadora do processo, mas não é aceitável que o presidente da Câmara seja presidente do Conselho de Administração da PLIE. Connosco na presidência, espero que o projecto avance cada vez mais depressa, porque tudo faremos para que seja acelerado e não continuemos a perder oportunidades.

P – O que acha da situação da Delphi?

R – Estou preocupada, porque se a Delphi tiver uma constipação, o concelho da Guarda fica com uma pneumonia. A Câmara tem obrigação de ser catalizadora de novos investidores, tem que ir à procura deles e não pode ficar na passiva, muito menos impor burocracias e dificuldades a quem nos procura.

P – Como vê a relação da cidade com o IPG?

R – O IPG é a obra que mais marcou a cidade nos últimos 30 anos. O relacionamento deve ser optimizado, de forma a que haja sintonia total entre as formações que são administradas no IPG e as necessidades da cidade. E para isso têm que trabalhar em conjunto. A nossa candidatura quer discutir o Plano de Desenvolvimento Económico e é fundamental que tenha os contributos, não só do NERGA e de outras associações, mas também do IPG.

P – O que pensa do TMG?

R – Inicialmente teve uma verba prevista entre os quatro e os seis milhões de euros, mas obra terminou com um custo total de 12,5 milhões de euros (2,5 milhões de contos). Este diferencial faz muita falta ao desenvolvimento básico das aldeias. Não me conformo com o facto de haver aldeias à entrada da cidade, como Santana d’Azinha, por exemplo, que tem três anexas e não tem saneamento básico. Também fomos frontalmente contra o facto de ter sido criada uma super-estrutura de gestão do TMG [CulturGuarda], com os seus dois directores a ganharem mais de três mil euros cada. Quando temos dificuldades e há uma crise, isto é um atentado às famílias que vivem com grandes dificuldades e a um certo grau de pobreza que também já existe na nossa terra. Entendemos que deveria ter havido um aproveitamento do pessoal da Câmara e talvez com isso se poupassem dinheiros públicos para satisfazer necessidades básicas do concelho, desde a água e saneamento até às questões ambientais e ecológicas, como o aproveitamento turístico da Barragem do Caldeirão.

P – Toda a gente fala em necessidade de mudança política na Guarda. Mas as coisas não mudam? O que se passa na sua opinião?

R – A palavra que mais tenho ouvido em qualquer aldeia, bairro ou anexa, por mais pequenina que seja, é mudança. É preciso mudar para melhorar.

P – Como será a Guarda daqui a quatro anos?

R – Cá estaremos para ser julgados pelo trabalho que fizemos. As pessoas não têm que ter medo da mudança. Estaremos totalmente disponíveis para sermos julgados por aquilo que fizemos e pelo que, eventualmente, podemos não conseguir fazer. A mudança é sempre saudável quando é para melhor e acredito que é isso que vai acontecer.

P – Acha que estão reunidas todas as condições para o PSD ganhar a Câmara da Guarda?

R – A população da Guarda conhece-nos e sabe que não desistimos de lutar pelas causas em que acreditamos. Não pouparemos nunca esforços para reivindicar para a Guarda aquilo que consideramos que o concelho tem direito.

P – A sua equipa é uma lista para fazer as pazes com os militantes ou para governar o concelho?

R – É uma lista de excelência para governar o concelho. Naturalmente, unindo esforços de todos os guardenses, independentemente de serem ou não militantes de qualquer partido político, incluindo o PSD.

P – Com quem é que não conta no PSD da Guarda?

R- Conto com toda a gente, porque a nossa bandeira é a da Guarda.

P – O que vai mudar se ganhar?

R – Em termos de organização e gestão, queremos deixar de ser uma Câmara com peso excessivo de burocracia, falta de motivação dos profissionais e distanciamento dos cidadãos. Queremos uma Câmara com rigor e transparência, amiga dos cidadãos, próxima das pessoas e totalmente aberta. Por isso, queremos também encurtar o tempo de resposta dos processos, nomeadamente através de serviços on-line para que cada cidadão saiba a qualquer hora onde é que está o seu processo e o que falta fazer. Vamos descentralizar também as reuniões da Câmara, indo a cada uma das aldeias uma vez por mês.

P – Quais são as suas grandes bandeiras eleitorais?

R – As nossas propostas têm subjacente uma ideia muito simples: a qualidade de vida e bem estar para os guardenses. Uma delas é o Plano de Desenvolvimento Económico, em que a Câmara se constitui em pólo de atracção de mais investimentos para criar mais empregos. Outras são a reapreciação do PDM, a revisão do Polis, assim como a aposta no turismo e nas energias renováveis. Defendemos igualmente a requalificação da cidade e a revitalização dos espaços urbanos, reordenando o trânsito e construindo parques de estacionamento, concluindo a VICEG e construindo a “Estrada Verde”, a variante da Sequeira e a ligação da rotunda do ex-Matadouro à VICEG. Pretendemos criar o cartão social municipal, com vários benefícios para os idosos, desde o desconto de 50 por cento na factura da água até ao turismo sénior, à melhoria dos cuidados de saúde e ao desconto no comércio tradicional. Inovadoras são as equipas de apoio aos idosos no domicílio. Queremos também fazer uma grande aposta no desporto.

P – Se for eleita, vai pedir uma auditoria às contas da Câmara?

R – Neste momento, temos uma situação preocupante em termos financeiros. A dívida visível é de 42,5 milhões de euros, dos quais 17,5 milhões representam a dívida a fornecedores locais e às Juntas de Freguesia. O nosso propósito é, mantendo o mesmo valor da dívida, tratar dela a curto prazo para injectarmos os 17,5 milhões de euros na economia local, promovendo o seu desenvolvimento, pagando aos fornecedores locais e às Juntas. Mas é fundamental haver um auditoria às contas da Câmara e das empresas municipais para se apurarem os verdadeiros valores da dívida.

P – É acusada pela Câmara de ter sido o “grão de areia” que inviabilizou uma série de projectos, como a PLIE e a Escola Profissional, entre outros. O que tem a dizer sobre o isso?

R – É completamente falso. São desculpas de mau pagador, é o tentar atirar areia para os olhos das pessoas porque, desde a primeira hora, sempre afirmámos e demonstrámos que estávamos totalmente empenhados na PLIE. Em relação à Escola Profissional, a nossa posição foi idêntica, até porque ela fazia parte do nosso programa. Estivemos totalmente disponíveis para ajudar, mas é a tal questão de que, quando convém, são maioria para decidir, se as coisas correm mal, a culpa é da oposição. Para demonstrar que fizemos sempre oposição pela positiva, no dia 18 de Fevereiro de 2004 propusemos à presidente da Câmara de então um pacto de regime para os projectos estratégicos – como a PLIE e o hospital – para o desenvolvimento da Guarda. Mas até hoje não recebemos qualquer resposta.

P – O que disse sobre Sousa Franco também lhe poderá custar alguns votos. Está ciente disso?

R – Todos temos momentos bons e menos bons. Não há ninguém que não erre, temos é que ter a humildade de assumir os nossos erros e eu assumi-o na altura e portanto isso é passado. O que se passou foi descontextualizado, não era essa a minha intenção, eu própria fiz questão de o transmitir ao professor Sousa Franco. Fi-lo por escrito, felizmente que tenho esse registo, mas infelizmente o senhor morreu numa escaramuça do Partido Socialista. Lamento muito o que aconteceu, mas nem sempre fazemos as coisas da melhor maneira.

P – Porque é que acha que um guardense deve votar em si, quando em quatro anos no executivo ficou mais conhecida pelas guerrilhas do que pelas iniciativas e projectos?

R – Não concordo com isso. Durante os primeiros tempos, os hábitos e os vícios do executivo socialista obrigaram-nos a tomar atitudes de grande firmeza. Muitas vezes isso pode ser confundido, e houve de facto uma tentativa para que isso passasse para a comunicação social dessa forma, em termos, não de firmeza, mas de agressividade. Isso não aconteceu de maneira nenhuma. Basta comparar os primeiros tempos com os últimos anos do mandato. A partir do momento em que conseguimos sensibilizar e introduzir algumas regras de cultura democrática e de respeito pela oposição, as reuniões decorreram de uma forma totalmente diferente. O executivo socialista, em termos de organização e gestão, trabalhava com instrumentos que eram mais típicos da idade da pedra do que dos dias de hoje. Havia uma rejeição total a tudo aquilo a que propunhamos e não se discutiam as ideias. As propostas do PSD eram para deitar fora. De facto, não me lembro de nenhuma que tenha sido aproveitada. A nossa atitude de firmeza e dureza foi uma forma de nos defendermos muitas vezes de sermos “esmagados” e postos de parte.

P – Identifique uma obra do Governo PSD no concelho entre 2001 e 2004?

R – Terminou a A23 e em relação à A25 avançou o mais possível. O concurso do hospital estava programado para ser lançado em Março. Não podemos esquecer que a suspensão da Assembleia da República aconteceu a meio do mandato, foi uma decisão do Presidente da República que surpreendeu muita gente e que prejudicou a Guarda.

P – Quais as consequências políticas para si de uma eventual derrota a 9 de Outubro?

R – Não penso nisso. No dia 9 falaremos sobre isso. Até lá não há vencedores, nem vencidos.

P – Porque é que faltou a tantas sessões de Câmara nos últimos quatro anos?

R – A resposta está no autismo, na prepotência e arrogância do PS. No tempo de Abílio Curto, enquanto foi deputado, as reuniões eram à segunda-feira. Eu implorei até à exaustão para que as reuniões fossem mudadas para a segunda-feira, mas maioria mostrou-se sempre avessa à mudança, quando, para quem está todos os dias na Câmara, fazer as reuniões à segunda ou à quarta era absolutamente indiferente. Penso que isso foi uma tentativa para me desanimar e obrigar a desistir durante o mandato. Enganaram-se, porque consegui resistir. Como presidente da Câmara, garanto que tratarei a oposição com respeito e consideração, num verdadeiro espírito democrático. Trata-la-ei como gostaria de ter sido tratada durante este mandato.

P – Se não for eleita presidente, vai continuar a ser vereadora da oposição?

R – Eu concorro a presidente…

P – Como vê a lista de Joaquim Valente?

R – Não costumo fazer comentários sobre os meus adversários, em termos de pessoas. Eu discuto projectos e ideias para a Guarda. Nesse aspecto estamos perfeitamente à vontade, porque a estratégia que temos para a Guarda é aquela que precisa. Não é por acaso que houve uma certa colagem, quer às nossas ideias, quer à nossa imagem. Ficámos felizes por isso, porque é sinal que estamos no bom caminho e que mesmo os nossos adversários reconhecem que as nossas ideias são úteis e necessárias para o desenvolvimento da cidade e do concelho.

P – E quanto ao candidato em si?

R – É a continuidade do sistema, é mais do mesmo. Esteve sempre dentro do sistema, porque foi funcionário e vereador da Câmara e depois foi fornecedor de vários serviços. Mesmo não estando dentro da Câmara, enquanto funcionário ou vereador, sempre recebeu dinheiros públicos através da Câmara ou das empresas municipais. Estamos a falar, por exemplo, do Polis, onde a deliberação da autarquia era para ele ir reforçar a equipa para fazer obras complementares a título gratuito. Mas passado um ano, verificámos no relatório de contas uma subida extraordinária das despesas com o pessoal e o director-executivo disse-nos que foi para pagar os vencimentos ao engenheiro Valente com a a módica quantia de 3.000 euros por mês. Houve aqui um abuso de uma deliberação da Câmara. Foi também o fiscal responsável pela construção do novo edifício dos Paços do Concelho. A obra foi adjudicada por quatro milhões de euros e terminou em 10 milhões. Ele, que tinha direito a percentagem, em vez de receber 75 mil euros, deixou disparar a obra e recebeu 250 mil. É importante que as pessoas da Guarda saibam isto. O engenheiro Valente é também o responsável pelo insucesso do Parque Industrial. Portanto, está ligado a insucessos e a perdas de oportunidades da Guarda que o colocam com muita dificuldade na imagem que quer transmitir. Agora, não pode chegar à Guarda e dizer que não tem nada a ver com o assunto quando as questões são penalizadoras.

P – Como comenta as declarações de José Luís de Almeida, que a acusou de desconhecer o dossier da PLIE?

R – As minhas afirmações divulgadas no “Independente”, de 16 de Setembro, acerca da PLIE têm como único destinatário a Câmara da Guarda. Aliás, fiz uma referência explícita à autarquia quando afirmei que quis gerir de forma tirânica todo o processo, negando a participação dos empresários. Nunca, em momento algum nessa entrevista, me referi aos empresários e às empresas que integram a PLIE, sendo portanto abusivo extrapolar para o campo empresarial aquilo que, apenas e exclusivamente, foi referido acerca do desempenho do executivo socialista no processo.

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