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A obsessão do défice

observatório de ornitorrincos

O presidente da câmara de uma cidade australiana fez publicar num jornal da sua região um apelo às suas concidadãs para até ali viajarem e, se ficarem satisfeitas, que por lá permaneçam. Eis um autarca preocupado com as suas gentes. Numa cidade com um rácio de cinco homens por mulher e menos de mil raparigas entre os 20 e os 24 anos numa população superior a vinte mil habitantes é de louvar que o presidente de câmara que se empenhe na melhoria das condições de vida dos seus munícipes. E o homem, numa correcta leitura das condições de habitabilidade, compreendeu que numa localidade com tal demografia não seria uma rotunda ou uma piscina que acrescentariam qualidade de vida. Principalmente porque numa cidade sem mulheres as rotundas tornam-se desnecessárias e as piscinas desinteressantes.

No entanto, esse pedido publicado era particularmente dirigido a “mulheres com défice de beleza”. As criticas não se fizeram esperar e eu junto-me ao coro. Qual é a razão de o convite ser dirigido apenas às feias? Pensará o presidente tão mal dos habitantes da cidade que não os considera capazes de namorar miúdas giras? Será tão inseguro que assume à partida que, existindo as raparigas bonitas em percentagem inferior às normais e às feias, ele não vai estar, por assim dizer, nos primeiros lugares da grelha de partida? Receará o confronto entre os mais válidos municipes na disputa pelo colo das mulheres mais habilitadas em atributos?

Denoto aqui a falta de ambição, o medo da competição e o nivelamento igualitário típicos dos esquerdistas. Aposto que a câmara é de maioria trabalhista. Claramente esta é uma medida típica de “discriminação positiva” a favor das feias. Mesmo assim, o discurso contradiz a ideologia. Se em vez de raparigas com défice de formosura apelasse a mulheres com superavit de graciosidade, o excesso poderia depois ser redistribuído por aqueles que dela mais necessitassem. Num acesso leninista poderia até propor a colectivização da propriedade.

A única razão compreensível para esta atitude é a pressuposição de se estar em presença de um equilíbrio de Nash. Com tantos pretendentes e um número limitado de mulheres bonitas, os homens podem optar não perder os favores das menos abonadas e deixarem as mais afortunadas ao abandono. Nesse caso, não só traria má fama à cidade como deixaria o presidente da câmara nas mãos de duas ou três boazonas ressentidas. E o homem pode ter o coração fraco.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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