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A nossa casa está doente

Atmosfera Portátil

No Dia Mundial do ambiente, assinalado no passado dia 5 de Junho, o mundo assistiu a uma nova forma de lançamento de um filme: o documentário ambientalista “Home – O Mundo é a Nossa Casa” estreou em simultâneo em diversas plataformas de distribuição: internet, DVD, televisão e na sala de cinema. Foi uma forma inusitada de estreia mas não foi propriamente original: o realizador Steven Soderbergh já tivera a mesma ideia, em 2005, quando estreou o seu filme “Bubble” em todos os meios mencionados simultaneamente. Esta nova política de distribuição só reforça a consciência de que vivemos, cada vez mais, num mundo global, onde a informação tem de chegar, pelos diferentes meios, a todo o lado e à mesma hora (é também uma forma subtil de combater a pirataria).

E o que dizer do documentário “Home”, enquanto objecto fílmico e enquanto mensagem? Vi-o na RTP2 no dia da estreia, mas o local ideal teria sido na sala de cinema, dada a grandeza e beleza das imagens. O documentário procura aproveitar o mediatismo alcançado com a militância pela defesa do ambiente de filmes como o popular “Uma Verdade Inconveniente” (2007) de Al Gore e de “A 11ª Hora”, documentário apoiado pelo actor Leonardo DiCpario. É indiscutivelmente um filme belo, pelas imagens captadas em mais de 50 países diferentes, mas por vezes parece que a proposta se esgota na busca da imagem esteticamente perfeita do tipo “postal ilustrado”. O realizador francês (mais conhecido como fotógrafo) Yann Arthurs-Bertrand teve a preocupação de mostrar paisagens exóticas do mundo inteiro (sempre a partir da perspectiva do céu) com a clara intenção de impressionar o espectador. Mais a mais, houve uma clara vontade de relacionar determinadas paisagens com telas de pintura, ora impressionistas, ora abstractas, facto que pecou pelo exagero estético desta conotação. A mensagem acabou por se esboroar perante tanta riqueza visual.

O conteúdo ambientalista do filme é altamente alarmista, com mensagens como: “Se a Humanidade não fizer nada dentro de dez anos, pode já ser tarde”, mas toda a fundamentação para esta e outras afirmações cimentam-se em bases científicas credíveis. São formas que o realizador se serviu para agitar a consciência colectiva de todo o mundo, mesmo que “Home” pareça não evitar uma certa carga panfletária – o que acarreta aspectos positivos e negativos. Em termos formais e de linguagem cinematográfica, o documentário realizado por Arthurs-Bertrand e produzido pelo conhecido cineasta francês Luc Besson, está bem concebido, com uma montagem coerente e com um ritmo visual bastante apelativo. Consegue os seus objectivos, que são os de alertar a população mundial para o desastre ambiental e ecológico iminente do nosso planeta.

Não deixa de ser curioso que muitos planos e sequências de “Home” sejam decalcados da obra-prima de Godfrey Reggio, “Koyaanisqatsi” (1982), documentário pioneiro na técnica de filmar, de forma inovadora, a natureza em contraste com a cidade. Mais curioso ainda: o filme de Reggio consegue transmitir muitas das mensagens que o narrador de “Home” profere, mas sem dizer uma única palavra: só com imagens.

Por: Victor Afonso

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