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A necessidade de uma política migratória para a Beira Interior

Com maior ou menor intensidade, e de diferentes formas, todas as sociedades ao longo da história migraram por diferentes e distintas razões. Na memória recente do século passado tem-se presente uma ideia de que as movimentações migratórias se traduziram numa saída em massa de capital humano de Portugal no seu todo e, em particular, da Beira Interior (inclui Beira Alta e Beira Baixa, distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco).

Esta realidade inverteu-se, ainda que de forma pouco consistente e não consolidada, no início do século XXI; é neste início de século que nos vamos focar, especificamente nos três distritos mencionados. Ou seja, Portugal passou a atrair gentes, situação de que não havia memória desde os tempos do acolhimento aos judeus fugidos da perseguição nazi. Maioritariamente começaram por se dirigir e fixar nos grandes polos aglutinadores, os quais exercem uma maior atração: Lisboa, Algarve, Porto e respetivos arredores surgem em lugar destacado e, na fase seguinte, os restantes centros com capacidade de atração.

Digamos que o início do século trouxe consigo a dispersão de imigrantes e a democratização desta realidade ao interior, a qual descolou de forma clara da evolução do todo nacional em 2005. Duas razões macro podem justificar a mudança então verificada: o facto de os grandes polos estarem saturados e já não exercerem atração; ou o facto de o Interior, em si próprio, se ter transformado num polo aglutinador e com necessidade de mão-de-obra para acudir às suas necessidades. Do nosso ponto de vista, cada uma das razões de per si não é suficiente. Foi na conjugação dos fatores que esteve a razão da viragem.

Infelizmente, esta nova realidade foi de pouca duração. Começou logo a infletir-se, pouco tempo depois do seu início e, em 2012, começou o início da queda: a saída de nacionais foi acompanhada pela saída, ainda mais acentuada, dos estrangeiros, os quais aos poucos foram deixando o interior. Apesar de ainda não haver dados consolidados respeitantes a 2013, os dados provisórios confirmam a tendência de descida da população.

Numa região como o interior, onde os nascimentos acompanham de forma acentuada uma tendência nacional decrescente, um saldo migratório positivo seria imprescindível para o equilíbrio populacional. Por isso as autoridades locais e regionais deveriam mobilizar-se, e coordenar-se entre si, para irem atrair populações que possam ser potenciais migrantes para a Beira Interior: América do Sul, Europa Central e de Leste, África, Península Indostânica, China, são alguns dos “mercados” alvo.

A heterogeneidade de imigrantes que podem ser novos beirões por adoção, poderá ser um fator favorável para a sua integração, uma vez que as gentes que habitam esta região têm sido muito acolhedoras e pacíficas para quem chega, com muitos entrosamentos pelo percurso. Se houver vontade política para concretizar este projeto, a nova realidade da Beira Interior terá um futuro muito mais promissor do que tem agora.

Por: Acácio Pereira

* Inicia colaboração mensal. Acácio Pereira é presidente nacional do Sindicato do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. É colunista no diário Correio da Manhã.

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