Arquivo

A música encantada de Carlos Núñez

Teatro-Cine da Covilhã recebe hoje espectáculo único do gaiteiro galego

O virtuoso gaiteiro galego Carlos Núñez está esta noite no Teatro-Cine da Covilhã para um concerto único e muito provavelmente inesquecível. A sua folha de serviço fala por si. Com 30 anos de idade, o músico alcançou uma notoriedade universal graças ao seu virtuosismo e perfeição interpretativa, características que têm levado os críticos da especialidade a arriscarem comparações com o génio do imortal Jimi Hendrix. Actualmente, é o gaiteiro galego mais famoso de todos os tempos e um dos melhores do mundo, rivalizando com escoceses, irlandeses ou bretões, muito por culpa dos seus surpreendentes cinco discos e das inúmeras colaborações com nomes consagrados da música tradicional e da pop. Dos “Chieftains”, a Ry Cooder, passando por Roger Hodgson (ex-Supertramp) ou o vanguardista Hector Zazou, são muito poucos aqueles que ficam indiferentes à sua arte.

Carlos Núñez é um virtuoso precoce. Começou a tocar gaita de foles aos 8 anos e aos 12 foi convidado para solista da Orquestra Sinfónica de Lorient (França) para tocar uma composição do irlandês Shaun Davey, que mais tarde compôs especialmente para o gaiteiro e flautista galego. Desde então o seu currículo é impressionante e o músico transformou-se num pioneiro, investigador, produtor e embaixador cultural. Gravou pela primeira vez em 1989 com os “The Chieftains”, para a banda sonora do filme “A ilha do Tesouro”, e deu início a uma longa e frutuosa colaboração com o mítico grupo irlandês, tendo mesmo passado a ser o sétimo elemento da banda. “The Long Black Veil” (na canção de Sinead O’Connor) e “Santiago”, dedicado à Galiza e vencedor de um “Grammy”, foram os resultados mais sonantes. Em 1996, o seu primeiro álbum a solo, “A Irmandade das Estrelas”, resultou num êxito estrondoso em Espanha e impulsionou a música celta no país vizinho. Cinquenta músicos, entre eles os “Chieftains”, Ry Cooder, Luz Cazal e Dulce Pontes, colaboraram naquele que é considerado o marco da nova música celta espanhola.

Seguiu-se “Os Amores Libres” (1999), outro registo de grande qualidade e que vendeu 250 mil cópias em Espanha. Trata-se de um trabalho que explora as conexões entre a música celta e o flamenco, reunindo nomes sonantes como Mike Scott (Waterboys), Jackson Browne, Teresa Salgueiro (Madredeus), intérpretes de flamenco (Carmen Linares, Vincent Amigo, Sabicas, Cañizares e Carles Benavent) e músicos irlandeses (Liam O’Flynn, Sharon Shannon e Paddy Keenan, entre outros). Os bretões Dan Ar Braz, os marroquinos Bagdad Kemper, uma banda cigana da Roménia e uma enorme delegação galega completam a extensa lista dos convidados nesta produção. O êxito repetiu-se no ano seguinte com “Mayo Longo”, que apresentou alguns temas atrevidamente pop e acabou a liderar os top’s das grandes cadeias radiofónicas espanholas, feito inédito. Também aqui há uma colaboração portuguesa, a da jovem fadista Anabela, e um piscar de olho às vanguardas com a participação de Hector Zazou nos temas mais experimentais. Houve depois “Todos os Mundos” e finalmente “Almas de Fisterra”, uma espécie de tributo à Galiza após o desastre do “Prestige”. Na Covilhã, espera-nos uma viagem por todos estes universos.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply