A minha Guarda, a tua Guarda, a nossa Guarda. Não quero neste texto enaltecê-la em detrimento de outras cidades. Quero apenas ser fiel aos meus calorosos sentimentos por ela, a cidade que amo, a cidade onde nasci e a cidade que vislumbro diariamente quando abro a janela do meu quarto após um relutante e ensonado acordar.
É de um tamanho extenso a lista de palavras, a panóplia de adjetivos que poderiam ser usados para enriquecer uma descrição, deveras pouco ilustrativa, do que esta localidade é para os Guardenses que a habitam, ou pelo menos para a maioria deles. Tal facto reside numa explicação bastante simples: ser e fazer parte de algo fulcral da nossa existência não é contável por medidas e não é explicável por palavras. Todavia, farei o meu melhor na árdua tarefa de decifrar a afeição que remanesce em nós, do chão que pisamos, do ar puro que respiramos e da superfície ampla que deslumbramos.
Cidade pequena do interior. Talvez sejam estes os aspetos que mais desafios colocam à cidade mais alta e mais fria de Portugal. Atualmente, o interior está a sofrer um constante despovoamento, com a demanda das pessoas de uma vida melhor nas grandes, e densamente povoadas, cidades banhadas pelo mar. Este fenómeno é dramático na medida em que força o encerramento de escolas e serviços. Os decisores políticos dizem-nos ser inconcebível manter estas instituições abertas em todas as localidades que usufruíam delas muito antes desta assustadora desertificação. Será que querem encerrar o interior?
Contudo, este êxodo não é uma inevitabilidade. E digo isto, pois apesar de presenciarmos uma época em que se vive a ‘necessidade das grandes cidades’, as pessoas mais cedo ou mais tarde apercebem-se do valor da qualidade de vida dos pequenos centros, como a Guarda. Creio que dentro de alguns anos a tendência se dê no sentido inverso do atual.
Talvez um pouco contra mim fale. Estou no último ano do secundário e perspetivo o meu futuro para lá das fronteiras desta cidade, porque, neste momento, não me oferece aquilo que preciso para completar a minha formação pessoal e profissional e enriquecer a minha vida de novas experiências.
Num tempo de mudança, tudo acontece, incluindo o tempo. Não trocaria por nada os bons momentos que aqui vivi, as pessoas magníficas que aqui conheci e que moldaram a massa da pessoa que hoje sou. Porém, qualquer que seja o meu destino, o sol continuará a seguir matematicamente o seu rumo, as estrelas continuarão a pontilhar o céu, a poeira continuará a cavalgar nas asas do vento, trazendo o sabor agridoce da nostalgia.
Guarda, guarda-me bem.
Beatriz Almeida
* 17 anos, aluna do 12º ano na Escola Secundária Afonso de Albuquerque