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«A minha grande ambição é chegar ao Campeonato do Mundo»

Cara a Cara – Diogo Silva

P – Como surgiu o gosto pela caça desportiva e quando é que se iniciou?

R – No início era um caçador como acho que todos começaram. Tinha familiares que já eram caçadores e houve um dia em que os acompanhei e esse gosto foi crescendo. Durante vários anos fui um caçador “normal” de caça, até que achei que deveria entrar em competições de tiro. Em 2004 fui campeão nacional e depois, com o agravar da crise, os cartuchos começaram a ser bastante caros, as deslocações também, e começou a ser incomportável no orçamento familiar continuar com o tiro desportivo. Nessa altura a minha cadela de caça faleceu e tive necessidade de comprar outro cão para me acompanhar na caça às perdizes, que era o que mais gostava de caçar. Em 2008 comprei o cão com dois anos e meio e o antigo dono disse-me que o animal já tinha feito provas de Santo Huberto, que na altura nem conhecia. Aí comecei a caçar com o cão e procurei alguém para o treinar e poder apresentar-me nas provas da região.

P – O que distingue a caça “normal” da desportiva?

R – Na caça normal há regras a cumprir, mas não há lá ninguém para ver se estamos a proceder bem ou mal. Na caça desportiva, além de termos de cumprir todas as regras de caça, temos ainda outros procedimentos para cumprir como a educação para com as pessoas, a fauna, o animal e até para com a nossa própria espingarda. Isto distingue muito uma coisa da outra, embora as duas andem de braço dado.

P – Em que consiste a vertente de Santo Huberto, a que pratica com mais regularidade?

R – A vertente de Santo Huberto é um ato de caça às perdizes, podendo também ser com faisões. É-nos dado um terreno, que pode ser mais ou menos extenso, conforme a zona do país onde a prova se realizar. Nesse terreno são colocadas algumas peças, cujo número nem sempre é igual. Por incrível que pareça, é muito mais difícil para um cão uma prova com mais peças do que com menos.

P – É preciso haver muito treino para a “comunicação” com o seu cão resultar?

R – É preciso mesmo muito treino. Um cão para estar apto a ser apresentado a alto nível deve ter, pelo menos, quatro anos de treino. Depois, é como um atleta de alta competição. Se o cão estiver parado um ou dois meses, não vai esquecer tudo, mas vai ficar um pouco “enferrujado”. É necessário fazer um treino semanal, se possível dois. Normalmente treinamos de acordo com as provas que vamos ter. Há um senhor que vive em Portalegre – que já foi campeão do mundo – que é um supra-sumo nos cães de parar e que me tem ajudado. Praticamente tudo o que sei em relação a treinos foi ele que me ensinou.

P – Costuma participar em provas em todo o país?

R – Sim, costumo participar em provas de norte a sul do país e inclusivamente em Espanha. No último ano estive na Taça da Extremadura, em que fui convidado para participar e até ganhei a minha série, terminando na terceira posição da geral.

P – Acha que a caça pode funcionar como um atrativo para a região em termos de turismo?

R – Sem dúvida. A meu ver, era necessário haver algumas mudanças, mas acho que a caça pode funcionar como um atrativo turístico e que zona será melhor do que a nossa para isso? Temos terrenos fabulosos, desde a montanha à planície. Temos zonas com muita caça grossa, por exemplo na área junto a Espanha, como Monfortinho, e mesmo assim já temos muito turismo ligado à caça, especialmente na parte da raia. Vê-se muita gente vinda de todo o país para caçar nas nossas terras. Acho isso muito importante e que poderá ser ainda mais desenvolvido.

P – A caça desportiva é uma modalidade cara?

R – Se contarmos com tudo o que temos que investir é uma modalidade algo cara porque temos que fazer algumas deslocações grandes para treinar, uma vez que na nossa região poucos são os campos de treino que nos permitem utilizar armas de fogo e sem isso não conseguimos concluir o treino. Por parte das associações e mesmo das autoridades cinegéticas era necessário que fossem ultrapassados alguns “tabus”, pois quando veem alguém com uma arma na mão num campo de treino fora da época de caça a ideia dessas pessoas é que o caçador vai matar indiscriminadamente o que lá existe. É sobre esta ideia que tem que se trabalhar um pouco porque temos terrenos, muitas vezes belíssimos na região, em que não conseguimos lá soltar um cão por ser proibido. Isso acaba por trazer mais custos porque temos que nos deslocar. Temos que diversificar os terrenos para os cães, pois as provas têm diferentes exigências. Muitas vezes não é possível fazer os treinos com a regularidade necessária. Eu tenho o meu trabalho normal, a caça é um hóbi e para chegar a um alto nível é preciso treinar e poderia apurar mais algumas situações se tivesse mais tempo e dinheiro.

P – Quais são as suas grandes ambições para o futuro na caça desportiva?

R – A minha grande ambição é chegar ao Campeonato do Mundo, objetivo que já estive perto de conseguir várias vezes, mas ainda não foi possível isso acontecer. Julgo que em termos de qualidade estão reunidas as condições, quer da minha parte, quer do meu cão, mas quis a sorte que isso ainda não acontecesse. Para se chegar ao Mundial é necessário ficar nos dois primeiros lugares. Devido à crise, já este ano, as organizações portuguesas estavam com dificuldades para realizar até o Campeonato Nacional e houve também muitas dificuldades em patrocinar o campeão e o vice-campeão nacionais para irem ao Mundial. Só mesmo perto da data é que conseguiram arranjar algumas verbas, mas chegou a colocar-se a possibilidade dos atletas pagarem a sua própria deslocação, tendo só algum pequeno contributo por parte das organizações, pois a crise está a afetar todas as modalidades e esta não é exceção. Contudo, tenho fé e vou trabalhar arduamente para chegar ao Campeonato do Mundo. Todos nós que participamos nestas provas e o tentamos fazer ao mais alto nível temos a nossa ambição e Portugal tem vários atletas com muitos títulos. Isso diz-nos que Portugal está num altíssimo nível no Santo Huberto e a opinião generalizada é de que é mais fácil ganhar num Campeonato do Mundo do que ganhar em Portugal.

Diogo Silva

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        Campeonato do Mundo»

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