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À mesa com o património

Nos Cantos do Património

Nos últimos textos que assinámos nesta coluna dissertámos sobre as raízes históricas do consumo do vinho na Lusitânia romana e sobre os vestígios materiais relacionados com a produção do vinho e com a cultura da vinha. Hoje veremos alguns casos curiosos da utilização do património na divulgação do vinho ou da utilização do vinho para a divulgação do património.

A boa imagem do vinho comercializado passa, muitas vezes, pela apresentação das garrafas e dos rótulos. Por essa razão, algumas empresas e cooperativas têm procurado investir no design dos rótulos utilizando, muitas vezes, imagens e símbolos com grande significado histórico, que remetem, geralmente, para as raízes mais remotas de cada região. Vejamos alguns casos que nos parecem significativos.

As mundialmente conhecidas gravuras rupestres do Paleolítico do vale do Côa têm sido prodigamente aproveitadas pela adega cooperativa de Foz Côa. Conhecemos o “Vinho do Paleolítico”, o “Vale sagrado” ou o vinho “Rupestre”. As imagens Pré-históricas do Vale do Côa, classificadas como Património da Humanidade, são utilizadas – e bem – para divulgar o seu vinho no mundo. Muita gente se lembrará, ainda, da operação mediática de afundamento do vinho no rio Côa – “o rio sagrado” – há alguns anos atrás. Esta iniciativa proporcionou grandes proventos à cooperativa local, tal foi o sucesso da operação. Outras entidades da região deveriam seguir o exemplo para promover os seus produtos de qualidade no mercado nacional ou internacional, utilizando uma imagem de marca como são as gravuras rupestres.

Noutros casos é mesmo o vinho que se torna o “mensageiro” do património, divulgando monumentos e vestígios pouco conhecidos. É o caso da Meda, onde a cooperativa local utilizou um dos vestígios arqueológicos mais abundantes no concelho para dar nome a um vinho – o “torcularium”. Este era o nome latino para o lagar, especialmente o escavado na rocha. Considerada uma construção de origem romana, o torcularium está presente em quase todas as áreas vinícolas da Beira Interior. A Meda soube aproveitar este vestígio arqueológico para divulgar o seu vinho de qualidade.

Também Pinhel tem utilizado o seu Castelo, com a bela janela manuelina para designar os vinhos evocando, simultaneamente, a história da cidade. É o caso do vinho “Varanda do Castelo” ou o “D. João I”, este último com uma imagem do bonito pelourinho manuelino.

O mesmo se tem feito em Figueira de Castelo Rodrigo com o “Convento de Aguiar” dos monges de Cister, onde viveu o famoso Frei Bernardo de Brito e com a aldeia histórica de Castelo Rodrigo.

Vila Franca das Naves usa como marca de um dos seus vinhos, a figura lendária do cavaleiro medieval chamado João Tição que, num assomo de bravura, decidiu provocar o exército mouro acampado no campo de S. Marcos, junto a Trancoso. A lenda é evocado quer no nome do vinho quer no próprio rótulo.

No Douro o vinho “Porca de Murça” é, apenas, outro caso bem conhecido da divulgação do património nortenho. Com efeito, o vinho evoca uma escultura proto-histórica de um suíno, com cerca de 2500 anos, designada pelos arqueólogos de “verraco” ou “berrão”. É uma excelente forma de divulgar uma obra de arte Proto-histórica que de outra forma poucos conheceriam.

Por: Manuel Sabino Perestrelo *

* perestrelo10@mail.pt

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