Arquivo

A “mão” amiga do voluntariado

A vontade de ajudar encontra-se de formas diversas com quem precisa de ser ajudado. Os guardenses continuam a inscrever-se para apoiar quem mais precisa, mas há vários alunos do ensino superior que procuram estas atividades para ter mais experiência na sua área.

Por vezes, os voluntários não “vestem” mais do que um sorriso ou uma palavra de conforto, o que aviva a boa disposição de quem julgava já não ter motivos para sorrir. São várias as instituições que “abrem as portas” aos cidadãos, mas também àqueles que, no ensino superior, procuram ganhar experiência na profissão que ambicionam.

Já passaram 239 pessoas pelo serviço de voluntariado do Hospital Sousa Martins desde a sua criação, em 1999. Atualmente há 47 voluntários: «O número tem vindo sempre a aumentar, pois as saídas são preenchidas com a entrada de outras pessoas», refere Vasco Lino. Já no Hospital Nossa Senhora da Assunção (Seia) há 25 voluntários, sendo que o presidente do conselho de administração da ULS da Guarda destaca a musicoterapia: «Iniciou-se este ano na unidade de paliativos como um complemento ao tratamento prestado aos doentes», sublinha. Para o responsável, os voluntários «têm um papel muito importante dentro da própria missão dos hospitais e do Serviço Nacional de Saúde», evocando valores como a humanização, proximidade e partilha.

Na CERCIG (Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadão Inadaptados da Guarda) também marcam presença, em regime de voluntariado, uma média de quatro estagiários curriculares a que se somam, ocasionalmente, cidadãos que cumprem horas de trabalho comunitário (normalmente por multas) e os “tradicionais”. «Estamos sempre disponíveis para um dia diferente dos utentes, incentivamos até os nossos estagiários nesse sentido», vinca Ricardo Antunes, assessor da direção. A instituição já chegou a ter seis voluntários ao mesmo tempo, com as atividades a variarem entre a música, a pintura e atividades temáticas, entre outras. Mais recentemente «houve duas pessoas que mostraram interesse em serem voluntárias na CERCIG e esta ajuda é sempre bem-vinda se for em prol da instituição e dos utentes», sustenta o técnico.

Por sua vez, Jorge Ferraz estima que marquem presença «cerca de 20 voluntários mais ou menos assíduos» na delegação da Cruz Vermelha da cidade, a que se juntam 20 nas equipas de emergência. O vice-presidente da direção e coordenador local de emergência, também ele voluntário, acredita que estes elementos «são muito importantes, porque temos o apoio social e são essenciais quando há campanhas». Segundo o responsável, são cada vez mais os licenciados inscritos no voluntariado, até porque «aparecem muitos enfermeiros que não têm emprego e isto acaba por ser uma mais-valia para eles em termos de currículo e conhecimento», considera, salientando os cursos lecionados na instituição. Contudo, «o ideal era ter uma sede em condições, onde pudéssemos ter um espaço para os voluntários, pois funcionamos com mensagens e emails e há algum desfasamento», frisa.

Voluntariado que marca

Helga Coelho tinha apenas 15 anos quando «a vontade de ajudar e aprender» a levou a “vestir”, pela primeira vez, a camisola de voluntária. Hoje com 24 anos, e formada em gerontologia pelo Politécnico de Bragança, a guardense já perdeu a conta às instituições com que colaborou e às pessoas que marcaram este seu percurso. A “Despertar do Silêncio” – associação de surdos local –, o Centro Paroquial da Sé e a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) são as suas “casas” mais recentes.

«Deu-me bagagem para desenvolver algumas sensibilidades e para sensibilizar os outros, nomeadamente no caso da língua gestual», adianta Helga Coelho. «São sempre vivências que nos marcam emocionalmente; então quando se lida com o cancro é uma coisa astronómica», sublinha. Foi com o projeto “Um dia pela vida”, da LPCC, que a jovem viveu o momento mais marcante: «Reencontrei uma professora de ciclo que teve uma neoplasia e nunca mais nos separámos», recorda emocionada. «Às vezes queixamo-nos, mas vemos quem está pior do que nós dizer que vai conseguir e isso é algo que marca», afirma. Desempregada, a jovem mantém o gosto em ajudar os outros: «É algo que me enriquece, nunca é trabalho em vão. Somos nós, crescemos, damos sem qualquer tipo de interesse e é muito bom», considera, acrescentando que o voluntariado será «sempre» uma atividade a conciliar com a vida profissional.

Sorrisos como recompensa

Joana Cruz, de 21 anos, estreou-se no voluntariado depois de ingressar no curso de Fisioterapia, no Instituto Piaget de Viseu: «Tive oportunidade de fazer estágios voluntários na minha área e, no final de cada dia, sentia-me realizada enquanto fisioterapeuta por ajudar os outros», garante, salientando que aproveitou esta experiência para «evoluir e crescer, preparando-me para exercer esta profissão».

O contacto com técnicas, profissionais e doentes contribuiu para o crescimento da estudante, que se sentiu recompensada «em gestos e sorrisos», enumera. Na opinião da guardense, os estágios voluntários permitiram-lhe crescer a vários níveis, mas também «ganhar competências e responsabilidade para atuar em várias situações», refere. «A necessidade de formação ao longo da vida é um conceito que interiorizei», afirma. O voluntariado surgiu como uma «surpresa agradável» no percurso académico de Joana Cruz, que viu neste “desvio” a hipótese de descobrir mais sobre o que a espera.

Sara Quelhas Joana Cruz e Helga Coelho

Sobre o autor

Leave a Reply