P-O Teatro Universitário recomenda-se?
R-Cada vez mais. O teatro universitário é livre de pressões e há uma liberdade criativa sem limites. E essa é uma mais-valia deste teatro.
P-Uma das queixas do TeatrUBI é a falta de apoio das entidades locais. Acham que há pouco reconhecimento da cidade ao vosso trabalho?
R- Eu diria que há muito pouco reconhecimento da cidade. Só conseguimos realizar este ciclo porque temos muita imaginação e porque muitos dos apoios que conseguimos são em géneros, como as alimentações e os alojamentos. Se tivéssemos que pagar esse valor na totalidade, seria impossível realizarmos este festival. Estamos a falar de um ciclo de catorze dias por onde passam cerca de 200 pessoas. No fundo, estamos a criar riqueza para a cidade e dá-la a conhecer a pessoas de outros países. São potenciais turistas porque se esses grupos, muitos de Espanha, forem bem recebidos quererão voltar um dia mais tarde à região. A cidade falha nesse aspecto, mas deviam apoiar-nos também por sermos um grupo da cidade e da região, reconhecido no meio do teatro universitário e que leva o nome da cidade para os locais onde actua, quer em Portugal como no estrangeiro. E nesse sentido, as empresas da região, privadas ou públicas, têm uma dívida de gratidão para com o TeatrUBI.
P-Faltam apoios então das empresas?
R-Apesar de haver empresas que faliram e que estão a atravessar um momento mau na economia, há empresas que se encontram muito bem na região. E essas, só teriam a lucrar se nos apoiassem, pois além de poderem descontar o apoio no IRC, poderiam ligar o seu nome à cultura. Todos os apoios que temos são de fora. Os únicos da localidade são da delegação do Inatel, da UBI e do bar Sons & Sabores. Só para terem uma ideia do quanto isto é irrisório, até a Embaixada de Espanha apoia o Ciclo de Teatro.
P-A adesão aos espectáculos também não tem sido muito grande…
R-Exacto, apenas nos dois primeiros dias é que a sala esteve bem composta, talvez por ser a peça do TeatrUBI em cena. Mas estamos com esperanças que venham mais pessoas assistir aos espectáculos espanhóis. Por norma, é o que tem acontecido nos anos anteriores.
P-É por isso que o TeatrUBI apostou este ano em mais peças de grupos espanhóis?
R-Também, mas para que esses grupos saibam que existimos. No fundo, é um intercâmbio e essa partilha de experiências é muito importante no teatro universitário.
P-Mas não havia grupos portugueses que pudessem integrar também este ciclo?
R-Esta é a terceira vez que estou na organização do festival e noto que há cada vez mais dificuldades em trazer peças de grupos portugueses. Há sempre mil e um entraves, não só financeiros. Já os espanhóis, não colocam quaisquer problemas e dizem de imediato que estão interessados em vir ao ciclo de teatro. Até porque têm outros recursos que nós não temos. Em Espanha, as universidades têm uma cadeira de teatro, os alunos podem optar por ela e serem avaliados como em qualquer disciplina. Os encenadores são pagos pela própria universidade, o que não se passa com o teatro universitário português. Só temos a ganhar e a aprender com a experiência de Espanha. É uma oportunidade extremamente enriquecedora para nós e também para eles, que têm assim uma oportunidade para mostrar o seu trabalho fora do país.
P-Apesar de haver muitas associações culturais e de teatro na Covilhã, são poucas as que se deslocam ao ciclo de teatro. O que falha?
R-Nós temos sempre a preocupação de convidar quase todas as associações culturais, principalmente as que se dedicam ao teatro, e não vêm. Todos se queixam que não se passa nada na Covilhã e quando se faz alguma coisa, as pessoas não vêm. Se todas as associações ou representantes fossem aos espectáculos que cada um organiza, isso só mostraria que estamos unidos e a lutar pelo mesmo objectivo. Não competimos com ninguém, temos o nosso lugar. Todos têm trabalhos diferentes e acho que a população só tem a ganhar quanto mais oferta existir.