Um filho pequeno dá imenso trabalho, um maior dá enormes preocupações, um já adulto inquieta. A mãe é uma pessoa que nasce no dia do parto, no momento em que ele fecha o canal interventricular, enche de ar os alvéolos pulmonares, encerra o canal peritoneo vaginal, fecha a circulação através do cordão umbilical e abre os olhos sem ver. Ela agora vê por ele. Ela agora cuida dele, aquela criatura incapaz, inviável sozinha, desprotegida, sem capacidade de auto-sustentar suas actividades de vida diárias. A mãe nasce da mulher naquele instante e termina as prioridades anteriores. A mãe que nasce quando a cria rompe tem pouco da mulher primitiva, tem pouco da natureza que se fecha. Agora tem de lhe dar vida, tem de o levar a criança e depois preparar-lhe a adultez. Há um segundo em que todo um processo químico, hormonal, físico transmuta a pessoa prévia. A mãe é pois uma revolução, uma tormenta que constrói uma nova existência. Não há cultura, não há sociologia que explique aquele segundo do nascimento. Também não há muita medicina que revele todas as transformações imunológicas que permitiram que um corpo levasse e construísse outro dentro dele. Que processos de autodefesa se apagam, que nutrientes se distribuem, que barreira placentar filtra tantas agressões. Que fica daqueles nove extraordinários meses e que mulher nasce naquele parto é toda uma incógnita que fascina. A mãe normal é arquitectada a partir da pré-existência e se for normal muda pois tem uma prioridade nova. Preconceito é impedir o que é normal e revolucionário é tentar ser independente, trabalhador, ambicioso cumprindo sem desmazelo o papel natural: mãe.
Por: Diogo Cabrita
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