Outro título de Morávia adequado à minha crónica de hoje seria “O Desprezo”. As eleições europeias não suscitaram em mais de dois terços do eleitorado outros sentimentos que estes, pelo que qualquer dos títulos seria adequado.
Houve mesmo assim quase um terço dos eleitores, descontados mais de dez por cento de votos brancos e nulos, que se interessou pela eleição – mas não necessariamente pelo seu resultado ou pelo que estava em jogo. Houve quem tivesse votado no MRPP, que advoga claramente a saída da União Europeia, ou no PCP, que anda perto das mesmas posições, ou na Carmelinda Pereira, que ninguém soube muito bem o que propunha ou ao que vinha mas não seria certamente algo que tivesse a ver com os tratados da União.
Resta-nos o novo franchisado do MPT, Marinho e Pinto, que pelos vistos muitos eleitores preferem afastar para Bruxelas, e o bloco central. No seu conjunto, os partidos que o integram representam agora menos de dois terços de um terço do eleitorado, valendo cerca de dois milhões de votos. Restam pelos vistos os militantes incondicionais desses partidos, os que vivem à custa destes ou esperam fazê-lo, e os que vão sempre votar, no PPD, no PS ou no CDS (é assim que dizem), faça sol ou chuva, na ilusão de assim contribuir de alguma maneira para a salvação da civilização ocidental.
Todos estes votos, ou ausência deles, nada significam em sede de escolha de deputados para o parlamento europeu. Ninguém quer saber quem irá agora dormir a sesta em Bruxelas e se ressona ou não, tal como nunca ninguém mostrou, por exemplo nas cartas ao director nos principais jornais, nos blogues ou em qualquer tipo de discussão pública, qualquer tipo de preocupação ou interesse por aquilo que os anteriores deputados fizeram.
O que significou então a última eleição? Um profundo desprezo, ou no mínimo indiferença, da esmagadora maioria dos portugueses por aquilo que os políticos lhes têm a dizer. Sabemos todos que são eles os principais responsáveis pelo estado a que o país chegou e muitos, cada vez mais, começam, perigosamente, a chegar a uma conclusão: não é votando que os problemas se resolvem.
Por: António Ferreira
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