Nas sociedades globalizadas como a que vivemos, a imprensa regional tem um papel determinante, porquanto, sendo a que mais perto está do público, sendo mais rápida e direcionada para o que realmente interessa aos seus públicos, permite conferir expressão a outros pensamentos e sentimentos, a outras formas de estar, saber, agir e fazer.
Isto é tanto mais importante quando somos diariamente confrontados com processos de uniformização cultural ditados pela globalização e por assimetrias assustadoras que se repercutem nos padrões e valores.
Naturalmente que os diversos grupos de influência, sejam eles económicos, financeiros ou políticos, fazem-se sentir com mais evidência na imprensa regional, pois é a que mais depende dos seus apoios para sobreviver, tornando-se por consequência mais influenciável e sujeita à manipulação desses poderes. Sem o apoio destes dois poderes a sobrevivência dos órgãos de comunicação social regionais torna-se muito mais difícil.
Todavia, pensamos que há nesta influência um misto de interesses: se a imprensa local não estiver muito atenta e disponível para os interesses dos seus leitores locais, acabará por se descredibilizar e até perder sentido. Hoje, a população leitora de jornais locais é mais exigente e o produto que se oferece tem que, para além de maior qualidade informativa, obedecer a uma pluralidade que reflita os seus leitores, assinantes e anunciantes.
A imprensa regional, porque muito próxima dos problemas locais e das pessoas que os sentem, é mais fácil de ser avaliada, o que acaba por se traduzir numa maior responsabilidade: na imprensa local, os erros são mais notórios, notados e até sentidos.
Importa no entanto que a imprensa regional e local se assuma como uma verdadeira alternativa aos grandes sistemas de comunicação e informação, sejam eles nacionais ou internacionais, por defender uma perspetiva mais coerente com a realidade social em que se insere, sendo um espaço de discussão dos problemas que afligem as populações.
Constituindo um instrumento no exercício da cidadania, ao promover o envolvimento dos populares nos processos de decisão, os media locais revelam-se com o fomento de um poder de autogestão responsável e na defesa de um desenvolvimento mais equilibrado das diferentes regiões do país, assumindo assim um lugar privilegiado de resistência à globalização e os seus princípios de hegemonia e de exclusão.
Por: Constantino Rei
Presidente do Instituto Politécnico da Guarda