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A Guarda vai voltar ser a «“capital do mundo”»

Abílio Curto recorda a «enorme manifestação popular» que encheu a Praça Velha há 37 anos

Presidente da Câmara da Guarda durante 18 anos, Abílio Curto tem a «melhor das recordações» do 10 de junho de 1977, quando a cidade mais alta foi palco das primeiras comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas realizadas após o 25 de abril. O antigo autarca lembra-se da enorme projeção mediática que a Guarda teve nessa altura e da multidão que encheu a Praça Velha para acolher o então Presidente da República Ramalho Eanes e o primeiro-ministro Mário Soares.

«Foi a primeira vez na história do Portugal democrático que se comemorou o Dia de Portugal» e foi a Guarda a ter esse «privilégio», o que na altura teve um «significado muito importante porque deixou de se comemorar o chamado dia da raça, como se fazia no tempo do fascismo e da ditadura», refere Abílio Curto. O presidente da Câmara da Guarda entre janeiro de 1977 e outubro de 1995 recorda a «enorme manifestação popular que houve tanto na receção ao presidente da República, general Ramalho Eanes, como ao primeiro-ministro de então, Mário Soares». O antigo autarca indica que foi Ramalho Eanes que «escolheu e sugeriu ao Governo que fosse a Guarda a anfitriã das comemorações», salientando a «mobilização que se gerou à volta deste acontecimento histórico e a presença de personalidades importantes da cultura portuguesa, como Jorge de Sena e Vergílio Ferreira». Nem tudo foi perfeito nas comemorações de há 37 anos, já que «o tempo não nos ajudou», pois na chegada de Mário Soares, no dia 9, estava «um temporal horrível, tanto que não pôde sequer aterrar no aeródromo da Covilhã». A chuva obrigou mesmo ao cancelamento do cortejo alegórico que «estava previsto para o receber envolvendo pessoas das aldeias e da cidade».

Quanto à receção ao Presidente da República no dia seguinte, «já foi mais airosa porque tínhamos sol, bom tempo e tudo correu conforme o previsto», isto até à noite quando a chuva intensa “estragou” o concerto da então Emissora Nacional no Parque da Cidade. A sessão solene decorreu na atual Escola Secundária Afonso de Albuquerque, na altura Liceu Nacional da Guarda, até porque «tínhamos umas instalações precaríssimas e não tínhamos sequer um espaço para fazer uma sessão com muita gente». Abílio Curto diz ter sido uma «festa que nos marcou imenso», com a Praça Velha «cheia como aconteceu nos meus mandatos variadíssimas vezes, foi uma coisa empolgante, era o que podemos chamar a “Praça de Cibeles”, em Madrid, quando o Real Madrid ganha os campeonatos».

O histórico socialista salienta que a Guarda nessa altura «ficou a ser conhecida a nível nacional e internacional porque estiveram aqui representantes de todos os países credenciados em Portugal através dos seus embaixadores».

Agora, passados 37 anos, a Guarda prepara-se para voltar a acolher as comemorações do 10 de junho mas o antigo presidente do município considera que «hoje em dia tudo está banalizado», embora espere que haja «muita gente porque é um dia importante para a Guarda, não certamente com aquela avalanche, multidão e entusiasmo que houve em 1977, mas com o interesse de um evento que vai reprojetar a Guarda a nível nacional e internacional, e que a vai tornar na “capital do mundo” por estes dias». O ex-autarca considera que as comemorações são importantes, «mais não seja sob o ponto de vista dos media e de divulgação da cidade, mas não vejo que este 10 de junho possa de qualquer forma ser equiparado com o de 1977 por todas as razões».

Antigo presidente da Câmara realça que em 1977 a Guarda «ficou a ser conhecida a nível nacional e internacional»

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