Perfil:
– João Teixeira Diniz
– Presidente do Nerga e vereador do PSD, eleito como independente
– Profissão: Empresário
P – Qual é a avaliação que faz do desempenho dos vereadores social-democratas e da maioria PS na Câmara?
R – Penso que estes dois anos foram difíceis para a Câmara e a oposição, porque poder-se-ia ter feito mais qualquer coisa se tivesse havido um encontro de ideias nalguns casos entre oposição e maioria. Não aconteceu assim em determinados assuntos, mas ambos têm culpas nesta matéria. No entanto, há vários aspectos da vida da Guarda em que há uma comunhão de ideias, os métodos é que não são muito parecidos.
P – O que acha da actuação da maioria socialista ao longo destes anos na autarquia?
R – Infelizmente, a minha visão é negativa, tanto mais se compararmos com as câmaras vizinhas. A Guarda tem vindo a perder a qualidade de capital de distrito, pois não foi capaz de polarizar, congregar esforços ou de chamar a si os outros concelhos. Tenho a ideia de que a Câmara vive de costas viradas para os outros concelhos e, em determinadas alturas, quando foi preciso o apoio e a ajuda desses municípios para fazer a tal massa crítica de que tanto se fala ser precisa para termos peso nalgumas decisões, a Câmara não conseguiu congregar esses esforços e perdemos muitos serviços públicos nos últimos anos. Os Governos não são os únicos culpados, também o é a Câmara da Guarda que nunca foi capaz de se entender e de se assumir como capital de distrito, argumentando que esses eram serviços para um distrito inteiro. A Guarda nunca se assumiu como tal e muito menos agora com as comunidades urbanas, que é um caso sintomático da falta de peso político da Guarda.
P – Isso por falta de liderança da autarquia?
R – Concerteza. Há falta de liderança, de visão e de um plano estratégico a longo prazo, por cá predomina a gestão do dia-a-dia. As coisas não podem ser geridas assim numa Câmara e num concelho como o da Guarda, que é – volto a repetir – capital de distrito. A vida não é um mandato autárquico, uma cidade ou a liderança de uma Câmara não se esgotam num mandato, infelizmente a Guarda tem andado a viver de mandato para mandato e isso tem-nos levado a situações complicadas.
P – Como vê este caso da alteração ou não do dia da reunião de Câmara?
R – A autarquia está a fazer finca-pé, porque até há meia dúzia de anos atrás as reuniões eram à segunda-feira. Foi Maria do Carmo Borges que as mudou para a quarta-feira, penso que por uma questão de birra em relação ao vereador do PSD, Carlos Andrade, que não vivia na Guarda e a quem as segundas-feiras davam mais jeito. Mas para se libertar dele – não digo afastar, porque é uma palavra forte -, a presidente alterou a reunião para um dia em que lhe era quase impossível estar. Neste mandato aconteceu o mesmo com Ana Manso e Luís Costa.
P – E para si, a quarta-feira é um dia que não lhe causa transtornos?
R – Neste momento, tanto me faz as reuniões serem à segunda ou à quarta, mas entendo que para alguns colegas meus a segunda-feira seria o dia ideal. Concretamente, Ana Manso que, como deputada na Assembleia da República, tem esse dia reservado para o distrito.
P – Não acha que há aqui uma estratégia de desgaste da oposição e de levar os vereadores do PSD a desistir do cargo?
R – Não quero ir por aí, mas parece que em determinadas alturas se quer fazer tudo para não haver no executivo vozes incómodas e activas que questionem determinados aspectos e opções da maioria socialista.
P – Estamos a quinze dias do final do ano, não o preocupa que o executivo ainda não se tenha debruçado sobre o Plano e Orçamento para 2004, nem tão pouco os vereadores da oposição tenham tido acesso a um documento preliminar?
R – Acho lamentável que isto suceda, porque só há mais duas reuniões do executivo antes do final do ano, sendo que a de 24 de Dezembro acontecerá num dia de tolerância de ponto nos serviços públicos. Não sei como vai a Câmara resolver o assunto, mas receio que o faça à pressa e sem discussão, como é habitual, ou, em último caso, corremos o risco de passar o ano sem termos um Plano e Orçamento aprovados.
P – Quais serão os projectos por que vai lutar no executivo guardense?
R – Vou com uma atitude positiva para que a Guarda ande para a frente. Estou a falar, concretamente, da plataforma logística, ou do Polis – onde se vê muito pouco -, dois exemplos de como funciona esta Câmara, cujo modo de actuar e de fazer as coisas é que tem atrasado tudo. A autarquia deveria ter uma atitude mais positiva quanto a contar com todas as pessoas, pois nada mudará se andarmos constantemente a não fazer as coisas porque a ideia vem dali ou de acolá. Tem que haver uma real conjugação de esforços e uma mudança de mentalidades, porque a bandeira da Guarda é mais importante que as cores partidárias.